Prefeito Paulo Machado |
Prefeito Paulo MAchado |
“Conta a parábola que um viajante procurou abrigar-se de uma tem
pestade
numa casa que lhe pareceu a mais apresentável numa distante cidade do
Oriente. Foi muito bem recebido pelo dono da casa, mas logo sentiu uma
pontada de frustração ao perceber que a casa era inteiramente vazia:
nenhum móvel, cadeira, mesa, nada. Sentado no chão, depois de descansar
alguns minutos, nosso viajante não se conteve e comentou:
- Agradeço muito sua hospitalidade, mas permita-me uma observação. Como o senhor consegue viver numa casa totalmente desguarnecida de móveis, quadros, eletrodomésticos – enfim, do conforto ao qual estamos todos habituados?
O anfitrião não pareceu aborrecer-se com a observação do viajante – apenas retrucou: - Por acaso o senhor está trazendo consigo esses bens confortáveis que citou? - Eu? Eu, não! Mas eu estou aqui de passagem!
Calmamente o anfitrião respondeu: - Eu também, meu amigo, eu também.”
MEU COMPANHEIRO E MINHA COMPANHEIRA DE VIAGEM:
Assinei hoje, com o coração contristado, a penúltima relação dos servidores que vinham caminhando comigo até agora na administração do município, e que precisam ser exonerados para que se façam os ajustes de final de governo. Olho o fluxograma de governo, o quadro estrutural de cada secretaria, e há grandes silêncios após os cargos que já foram esvaziados. Fecho os olhos e me pergunto: onde está fulano, onde se encontra cicrano, e aonde foi beltrano, que ocuparam essas funções hoje em stand by? E em cada linha vazia vejo saudades, lágrimas, esperanças, sonhos desfeitos, a ausência de quem caminhou quatro anos seguidos, três anos, dois, um ano ou até mesmo apenas um ou dois meses. “Meu Deus”, penso comigo, “quantos já desempreguei, quantos passaram noites insones diante das exigências da sobrevivência pessoal e familiar...” Isto me emociona, minha caneta pesa como chumbo e junto com a tinta que exonera vão lágrimas e dor. Mas o Tribunal de Contas dos Municípios, a Assessoria Contábil, o Controle Interno, a Secretaria de Finanças me dizem: “deixe o coração distante do gabinete, demita, não há outra saída”... São esses e outros dramas que subjazem a cada portaria, a cada ato que gera despedidas e demissões e que, quem reecebe o aviso de despedida não entende ou não perscruta.
Mas é preciso olhar a realidade de frente, e uma pergunta me inquieta: “quem assinará o meu ato de exoneração, no próximo dia 31 de dezembro?” Aquele que a tantos foi obrigado a exonerar, avisa aos companheiros e companheiras inconsoláveis que também serei demitido dos espaços do poder municipal. Portanto, certo de que todos estamos no mesmo barco, quero agradecer, pedir desculpas e falar de saudade neste quase apagar das luzes:
- Agradecer a quem caminhou junto, por um dia sequer, ou por longos quatro anos, e que por razões pessoais, ou de gestão, ou ainda porque não fomos capazes de contornar os conflitos, deixaram a caminhada um dia iniciada com vontade de vencer;
- Pedir desculpas e perdão se os tentáculos incontroláveis do poder, os interesses mal colocados, mal digeridos e mal conduzidos nos levaram a distanciamentos reparáveis e irreparáveis. Às vezes só percebemos isto tarde demais e a história é inclemente em sua marcha, não permitindo retornos;
- Falar de saudades do que aconteceu, do que poderia ter acontecido e não se fez realidade... dos esforços às vezes sobre-humanos que fizemos para que tudo desse certo, para que o município fosse melhor servido em todos os espaços que atuamos.
Estamos chegando à hora de nos separarmos e encerrarmos a viagem iniciada. Muitos passageiros já desceram em diversas paradas do trajeto. Alguns seguiram conosco até o ponto final, e verão de mais perto o último frear do ônibus, o apagar das suas luzes, o recolhimento à garagem... Outros ficaram pelo caminho, reclamando do condutor, do trajeto, da paisagem ou dizendo que pegaram o ônibus errado, que tudo não passou de um engano... Quero, quem sabe, um dia, dar carona a todos eles, a todas elas, pois carregam uma indispensável bagagem, que poderá ser novamente condicionada, em novo ônibus, sem os erros de trajeto que sempre ocorrem em uma viagem onde o imprevisível e o desconhecido são companheiros permanentes, por mais que pensemos conhecer o caminho...
Paulo Machado, prefeito de Senhor do Bonfim, aos 5 de dezembro de 2012
- Agradeço muito sua hospitalidade, mas permita-me uma observação. Como o senhor consegue viver numa casa totalmente desguarnecida de móveis, quadros, eletrodomésticos – enfim, do conforto ao qual estamos todos habituados?
O anfitrião não pareceu aborrecer-se com a observação do viajante – apenas retrucou: - Por acaso o senhor está trazendo consigo esses bens confortáveis que citou? - Eu? Eu, não! Mas eu estou aqui de passagem!
Calmamente o anfitrião respondeu: - Eu também, meu amigo, eu também.”
MEU COMPANHEIRO E MINHA COMPANHEIRA DE VIAGEM:
Assinei hoje, com o coração contristado, a penúltima relação dos servidores que vinham caminhando comigo até agora na administração do município, e que precisam ser exonerados para que se façam os ajustes de final de governo. Olho o fluxograma de governo, o quadro estrutural de cada secretaria, e há grandes silêncios após os cargos que já foram esvaziados. Fecho os olhos e me pergunto: onde está fulano, onde se encontra cicrano, e aonde foi beltrano, que ocuparam essas funções hoje em stand by? E em cada linha vazia vejo saudades, lágrimas, esperanças, sonhos desfeitos, a ausência de quem caminhou quatro anos seguidos, três anos, dois, um ano ou até mesmo apenas um ou dois meses. “Meu Deus”, penso comigo, “quantos já desempreguei, quantos passaram noites insones diante das exigências da sobrevivência pessoal e familiar...” Isto me emociona, minha caneta pesa como chumbo e junto com a tinta que exonera vão lágrimas e dor. Mas o Tribunal de Contas dos Municípios, a Assessoria Contábil, o Controle Interno, a Secretaria de Finanças me dizem: “deixe o coração distante do gabinete, demita, não há outra saída”... São esses e outros dramas que subjazem a cada portaria, a cada ato que gera despedidas e demissões e que, quem reecebe o aviso de despedida não entende ou não perscruta.
Mas é preciso olhar a realidade de frente, e uma pergunta me inquieta: “quem assinará o meu ato de exoneração, no próximo dia 31 de dezembro?” Aquele que a tantos foi obrigado a exonerar, avisa aos companheiros e companheiras inconsoláveis que também serei demitido dos espaços do poder municipal. Portanto, certo de que todos estamos no mesmo barco, quero agradecer, pedir desculpas e falar de saudade neste quase apagar das luzes:
- Agradecer a quem caminhou junto, por um dia sequer, ou por longos quatro anos, e que por razões pessoais, ou de gestão, ou ainda porque não fomos capazes de contornar os conflitos, deixaram a caminhada um dia iniciada com vontade de vencer;
- Pedir desculpas e perdão se os tentáculos incontroláveis do poder, os interesses mal colocados, mal digeridos e mal conduzidos nos levaram a distanciamentos reparáveis e irreparáveis. Às vezes só percebemos isto tarde demais e a história é inclemente em sua marcha, não permitindo retornos;
- Falar de saudades do que aconteceu, do que poderia ter acontecido e não se fez realidade... dos esforços às vezes sobre-humanos que fizemos para que tudo desse certo, para que o município fosse melhor servido em todos os espaços que atuamos.
Estamos chegando à hora de nos separarmos e encerrarmos a viagem iniciada. Muitos passageiros já desceram em diversas paradas do trajeto. Alguns seguiram conosco até o ponto final, e verão de mais perto o último frear do ônibus, o apagar das suas luzes, o recolhimento à garagem... Outros ficaram pelo caminho, reclamando do condutor, do trajeto, da paisagem ou dizendo que pegaram o ônibus errado, que tudo não passou de um engano... Quero, quem sabe, um dia, dar carona a todos eles, a todas elas, pois carregam uma indispensável bagagem, que poderá ser novamente condicionada, em novo ônibus, sem os erros de trajeto que sempre ocorrem em uma viagem onde o imprevisível e o desconhecido são companheiros permanentes, por mais que pensemos conhecer o caminho...
Paulo Machado, prefeito de Senhor do Bonfim, aos 5 de dezembro de 2012
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