Professor aposentado da
Universidade do Estado da Bahia, ingressando nesta Autarquia em 1985, através
do primeiro concurso de professores realizado nesta Universidade Estadual;
professor fundador da então Faculdade de Educação do Estado da Bahia (FAEEBA),
do Campus I; primeiro diretor eleito da então Faculdade de Educação de Senhor
do Bonfim (FESB), sinto-me como se estivera na ativa,às vésperas de um pleito
eleitoral que promete ser um dos mais acirrados dos últimos tempos, em vista à definição de quem dirigirá a UNEB a partir dos
próximos meses.
Chama-nos a atenção que pela primeira vez na história da Uneb,
disputam a reitoria dois candidatos oriundos do interior, superando-se o
tradicional privilégio a candidaturas da capital ou de grandes campi: Prof.
José Bites de Carvalho vem de Senhor do Bonfim, norte da Bahia, e Profa.
Adriana Marmori vem de Barreiras, oeste do Estado. Há de se reconhecer o olho
clínico do atual reitor, que foi buscar no interior do estado, em espaços
unebianos, professores que ele percebeu como capazes de desenvolver um
gerenciamento competente de pro-reitorias: Profa. Adriana Marmori, que
continuaria o trabalho por ele iniciado, de articular a Pro-reitoria de
Extensão, dando apoio e fomentando o diálogo Uneb/Movimentos e Instituições
Sociais; e Prof. José Bites, que dirigiria uma pro-reitoria que ainda concentra
os maiores esforços da Universidade, já que está voltada à oferta do ensino
universitário.
Os dois slogans, elementos
geradores de discursos eleitorais, parecem convidar o debate para os problemas
internos à Universidade do Estado da Bahia: “gerenciamento humano” de um lado,
“ “gerenciamento democrático e participativo” de outro lado.
Embora sejam questões
importantes e necessárias, os slogans não dão conta das questões cruciais que
sufocam e inviabilizam não só a Uneb, como as outras universidades estaduais:
UEFS (Feira de Santana), UESB (Vitória da Conquista), UESC
(Itabuna-Ilhéus). Há de se esperar um
debate, propostas e projetos que pautem elementos bem além das querelas e
problemas internos, já que na verdade a maior parte desses elementos tem a sua
origem e a sua manutenção em espaços alheios à própria universidade,
destacando-se ai a ausência de autonomia financeira e administrativa. Não se
poderá pensar em uma nova Uneb, ou em uma nova Universidade Estadual, se esta
depende as Secretaria de Educação do Estado e da Secretaria de Administração
para contratar um professor visitante para os seus quadros, por exemplo... Se
não pode resolver as deficiências de docentes nos campi, já que tudo depende de
concursos, contratação de pessoal, salários mais condizentes, e isto escapa ao
Gabinete do Reitor... Se a sua manutenção, no que há de mais trivial, depende
de repasses que nunca chegam, repasses contingenciados todo o tempo pelas
Secretarias de Governo do Estado. As questões externas precisam ser abordadas e
enfrentadas, sim, de forma eficiente e convincente, mesmo que o candidato ou
candidata à reitoria, caso eleito ou eleita, dependa da caneta do governador
para tornar-se de fato o reitor da Universidade, pois além do pleito, a eleição
só se consolida com o aval governamental.
Quais então, as estratégias das duas candidaturas para dotar a
Universidade do Estado da Bahia da Autonomia que lhe é negada atualmente? Como incorporar de fato ao projeto da Uneb a
construção de uma rede efetiva com as outras universidades estaduais,
superando-se a solidão atualmente existente?
Um outro ponto a exigir
coragem e proposta avançada, será sem dúvida o estatuto da “multicampia”, que
nunca se exerceu a contento nos espaços onde a Uneb está presente. A
multicampia para nós é mais um sonho ou um desejo, eivado de retóricas, que um
instituto. Continuamos departamentos isolados, nem sempre articulados, cada um
com os seus problemas, dispersando-se forças e iniciativas para manter os campi
em seus problemas específicos e fragmentados. Há de se discutir, por exemplo,
se a uneb continuará oferecendo os mesmos cursos por ai afora, provocando-se
falta de professores em todos eles, de forma recorrente e concorrente: os
mesmos problemas de enfermagem, por exemplo, em todos os campi onde esses
cursos foram criados. Não seria mais
corajoso e estratégico, concentrar os cursos, por sua natureza, em determinados
territórios da Bahia, evitando-se a
dispersão e a falta de profissionais e
infra-estrutura, como ocorre atualmente, em quase todos os campi?
Um terceiro ponto que não
pode passar em branco em debates e planos da atual campanha será o controle
social da universidade, levando-se em conta os contextos onde a Uneb está
inserida. Os municípios e territórios onde há campus da Uneb precisam ser
inseridos ainda mais no planejamento e ações da universidade, saindo do estágio
atual, de meros reivindicadores de cursos de graduação, sobretudo cursos ditos
mais “nobres”, a exemplo do disputadíssimo curso de medicina. A Sociedade organizada precisa ter cadeira e
voz nos conselhos locais e territoriais universitários, levando para dentro dos
muros universitários as demandas em torno daquilo que realmente o território
precisa, fazendo-se valer o óbvio princípio de que a Universidade não pode
ensinar o que quiser, a bel prazer e em arranjos e acomodações que atendem mais
o espírito visionário de quem dirige do que às reais necessidades e
expectativas locais e regionais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS –
Tentamos refletir a partir dos slogans de campanha do candidato Prof. José
Bites de Carvalho e da Profa. Adriana Marmori, que se vêm destacando neste
início de campanha em vista à eleição de reitor da Universidade do Estado da
Bahia; deduzimos que as temáticas escolhidas pelas duas candidaturas podem
privilegiar no debate questões
eminentemente internas à universidade; alertamos que as grandes questões
internas exigem também uma pauta fortemente voltada a elementos externos, como a falta de
autonomia administrativa, financeira e orçamentária que amordaçam atualmente as
universidades estaduais; insistimos na necessidade de se propor uma luta
articulada com as outras universidades estaduais; enfim, julgamos também
fundamental propostas convincentes em vista à multicampia, que vem sendo
desenvolvida de forma equivocada,
fragmentada e sem uma estratégia que institucionalize este elemento de
identidade da Uneb.
Até aqui, as reflexões de
um professor inativo, mas não distante das discussões voltadas ao ensino
superior de meu estado, especialmente no que se refere à Universidade do Estado
da Bahia.
Boa campanha, candidato e
candidata! Boa campanha, Universidade do
Estado da Bahia! A esperança não morre,
embora sejamos tentados a repetir com o cantador: “Amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada”.
Senhor do Bonfim, Bahia,
25 de agosto de 2013.
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