Andreilto |
Quem o conhece de perto, a figura
simpática, competente e lúcida do Prof. Andreilto de Almeida Barbosa, não
foi tomado de surpresa com o vir a lume de seu segundo romance, “O Tesouro do
Monte Tabor”. Repete-se no autor e professor a bela comparação do grande
filósofo Aristóteles, em sua obra “Poética”: “O historiador e o poeta não se
distinguem um do outro pelo fato de o primeiro escrever em prosa e o segundo em
verso. Diferem entre si, porque um escreveu o que aconteceu e o outro o que
poderia ter acontecido”.
Trata-se de um belo romance, um
verdadeiro romance de época, embora marcado todo o tempo pela inefabilidade do
sonho, do imaginário, do representacional. O autor consegue de forma tranquila
mesclar elementos registrados em nossa historiografia, com uma invejável e
competente delicadeza, recriando de forma idílica o clima dos séculos XVII e
XVIII neste torrão em que vivemos.
O que mais nos chama a atenção em “O
Tesouro do Monte Tabor” é o ritmo em “recto tono”, em estilo gregoriano,
mantendo-se todo o tempo a mesma salmodia a conduzir a narrativa, os diálogos e
os feitos, um “recto tono” místico, um imaginário que bebe o orvalho que dá
vida ao Belo Monte de Missão do Sahy.
O romance resgata verdades
históricas, sem atropelar os que foram ensinados de forma diferente.
Confirma-nos a presença de uma missão franciscana, e não jesuítica, como alguns
defendem equivocadamente; retira de cena os índios pataxós, que aqui nunca
existiram e traz ao cenário os índios kiriris, os verdadeiros donos da terra; retrata
a Casa da Torre e sua ganância na figura do Coronel Juvêncio; e nos brinda
quando menos esperamos com o latim que pontificava nos discursos e atos
católicos de então. Tudo isto de forma leve, agradável, diáfana, como se fora
um velho índio a falar à sua tribo atenta e silenciosa; ou um velho frade a
catequisar os seus neófitos.
Há momentos em que nos sentimos
diante de uma verdadeira instrução sócio-religiosa, um “didaqué” dos primeiros
cristãos, um catecismo de fato convincente e enraizado politicamente. Sim,
porque o autor, mesmo no belíssimo espaço de linguagem construído, edificante,
traz ao cenário os grandes conflitos que marcaram a ocupação do solo
bonfinense: os índios dizimados, passados à espada e finalmente vencidos e
aldeados, representa-os na figura de Frei Francisco; a religião e a
cruz portuguesas, reconstruídas na figura de Padre Aurélio; e o coronelismo
guloso da família de Dias D´Ávila, ressuscitado no Coronel Juvêncio, que todo o
tempo reprisava a forma como se tornara dono das terras que a Coroa
Portuguesa lhe presenteara: “Índio bom é índio morto!” Tudo isto é
revivido na longa viagem que essas figuras realizam, para chegarem ao Cume do
Monte Tabor, onde “O cobiçado Tesouro” seria entregue.
Poderíamos concluir esta resenha, contando
o inesperado desfecho da entrega do tesouro, e sobretudo, com a revelação do
que estava na velha arca, a descrição do tesouro do Monte Tabor. Mas se isto eu
fizesse, retiraria de vocês o direito de pesquisar e ver de perto a maravilha
dessa riqueza, a partir da página 140 da interessante e belíssima obra do
Professor Andreilto Almeida. Entrem de corpo e alma neste romance invejável,
que deveria ser leitura obrigatória em todas as escolas municipais, estaduais e
particulares de nossa terra, bem como em nossas famílias.
Parabéns, Prof. Andreilto Almeida,
seu romance é um romance que eu gostaria de ter escrito, e que abre caminho à
moderna historiografia bonfinense!
Senhor do Bonfim, 17 de dezembro de
2015
Paulo Machado, Professor Visitante da
UNEB e ex-prefeito de Senhor do Bonfim
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