Foto:Camila Souza |
O evento foi uma das realizações da
programação do Julho das Pretas 2016.
O debate “Fala Menina! Como assim
cultura do estupro?!”, realizado na manhã de hoje (26), no Centro Cultural
Plataforma, reuniu jovens negras e negros para celebrar o Dia Internacional da
Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.
O evento, que contou com um
“turbantaço” em sua abertura, faz parte da programação do Julho das Pretas 2016
do Governo da Bahia e foi realizado pela Secretaria Estadual de Políticas para
as Mulheres da Bahia (SPM-BA), em parceria com a Secretaria Estadual de
Promoção da Igualdade Racial (Sepromi).
No encontro, as secretárias estaduais baianas de Políticas para as
Mulheres, Olívia Santana, e de Promoção da Igualdade Racial, Vera Lúcia
Barbosa, receberam três influentes jovens negras: Lellêzinha, atriz,
cantora, dançarina e vocalista do grupo “Dream Team do Passinho”; Monique
Evelle, estudante e fundadora do Projeto
Desabafo Social, que foi considerada uma das mulheres mais inspiradoras do ano
de 2015 pela Think Olga; e Elis Regina Sodré, Diretora da União dos Estudantes
da Bahia.
O principal objetivo
do debate foi tratar do tema “cultura do estupro”, que vem sendo comumente
abordado pela mídia e na sociedade, diante de tantos casos que têm chocado o
país, junto a um público jovem, formado por meninas negras do subúrbio de
Salvador.
Em momento de
saudação, a Secretária Olívia Santana explicou que apesar de ser um tema duro e
difícil, a juventude precisa tomar conhecimento e enfrentar: “Vocês também têm
voz, pensam e têm as próprias opiniões, por isso, estamos aqui para ouvir estas
jovens empoderadas”, ressaltou.
A gestora explicou
que é preciso criar espaços de discussão e debate entre a juventude, permitindo
a conscientização e autoafirmação das mulheres, sobretudo, das negras, e frisou
ter certeza de que após o encontro, todas e todos presentes sairiam com
pensamentos diferentes, mais fortes, vivos e combativos.
A Secretária Vera
Lúcia também saudou os presentes e agradeceu o convite para fazer parte deste
importante debate que integra toda a movimentação do Julho das Pretas, que
segundo ela trata de um tema que precisa ser discutido, como um dos esforços
para dar fim a este problema social que é a cultura do estupro.
Antes da fala das
convidadas, a jovem Bruna Silva realizou uma performance para recitar a poesia
“Minha luta”, em que ela retrata a sua própria experiência frente ao
preconceito racial e propaga a ideia de que as jovens negras precisam de
autoafirmação e conhecer o real empoderamento.
Dado início às falas
sobre o tema, a cantora Lellêzinha (18) contou com detalhes a sua trajetória
até chegar à formação da banda Dream Team do Passinho, revelando os
questionamentos e as situações que vivenciou enquanto menina em um ambiente
majoritariamente masculino, em que sofria assédio dos garotos e sempre
encontrava um jeito de driblar e dizer “não”.
Lellêzinha contou
que quando se deu conta de que era uma representação jovem que viria a
influenciar outras meninas, deu início a uma série de pesquisas sobre
representatividade e o que ela poderia transmitir para ajudar a empoderar
outras garotas.
Já a baiana Monique
Evelle (21) frisou, em sua fala, que a cultura do estupro é algo vivido no
dia-a-dia e citou um exemplo rotineiro sobre o uso de transporte público por
meninas, que optam por sentar-se junto a outras mulheres por sentirem-se mais
seguras. Ela explicou que estas situações, assim como o racismo, não estão na
cabeça das pessoas, mas na vivência delas, e por isso é preciso falar sobre
tais assuntos.
Monique também
apresentou a sua visão sobre o empoderamento das mulheres e das negras: “Não
existe varinha mágica para o empoderamento”, explicou a jovem que apesar de
considerar o processo difícil e doloroso, ressalta que deve ser conquistado com
luta e persistência.
A Diretora da União
dos Estudantes da Bahia, Elis Regina, também confirmou em suas intervenções a
necessidade de tratar a cultura do estupro nas universidades, onde jovens são
hostilizadas por colegas e professores que são disseminadores de uma cultura machista
e patriarcal e culpabilizam as mulheres por erros que não são delas.
O público formado
por mais de 200 pessoas participou do encontro, dando opiniões, fazendo
perguntas e interagindo com as convidadas. Diversos temas foram abordados,
dentre eles: preconceito por ser mulher, negra e figura pública; autonomia,
liberdade e empoderamento; o meio artístico, as drogas e a prostituição; a
importância de ser uma liderança jovem e disseminar novas narrativas; e a atual
conjuntura política do país.
O “Fala Menina” foi
encerrado com uma calorosa apresentação de Lellêzinha, ao ritmo do passinho e
embalando jovens negras em canções recheadas de ideologia e voltadas ao
empoderamento. “Bem-vinda ao mundo das mulheres lindas. Vai fazer bem pra você
conhecer o seu poder. [...] Decidida, nada pode me parar. Eu tô sempre
confiando em mim, poderosa até o fim. [...] Em terra de chapinha, quem tem
cacho é rainha”, diziam alguns versos da canção “Bem-vinda”, apresentada pela
artista.
Foto:Camila Souza
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