Ana Paula Morato Damasceno |
por Marcos Cesário
Cresci te vendo crescer nas ruas
da cidade onde eu também crescia e, desde sempre, te achei linda. Te via sempre
de longe e das poucas vezes que te vi de perto, fingi que te olhava de longe.
Mas eu, sempre que podia, te olhava com atenção e com uma certa admiração.
O que eu admirava em você? Não
sei exatamente. Eu imaginava você pela sua forma simples de caminhar na rua. Admirava
sua forma de olhar sem encarar. Admirava a ausência de sua voz que nunca ouvi.
Não sei dizer. Não sei...
E, agora, agora mesmo, acabo de
saber que você morreu, esta madrugada, em um trágico acidente de carro. E me
vem esta tristeza sincera pelas palavras que nunca lhe disse, pelo olhar que
nunca lhe ofereci de perto. Não sei quem era você de verdade. E quem sabe quem
é quem de verdade? Acho que ninguém... Mas lamento a morte de quem imaginei
ouvir, olhar, conhecer de perto. Agora lamento, tanto, não ter deixado você ver
o quanto eu te olhava.
Querida, estou sentindo sua
morte. Não sei dizer, muito bem, como e onde estou sentindo sua morte. Mas
espero que aceite esta dor estranha de um próximo e triste desconhecido.
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