Em Portugal as amas de leite foram recurso de outros tempos por falta de leite materno ou por questão social. Senhoras de maior estatuto e poder económico contratavam jovens mães de condição mais pobre para amamentarem os seus recém-nascidos. A escolha das amas de leite era criteriosa e nem todas estariam aptas para essa tarefa remunerada.
Era necessário terem menos de 30 anos, boa saúde, olhos e dentes perfeitos, corpo bem formado não sendo nem muito gordas nem muito magras. Pele clara e elegantes, bem dispostas, limpas, obedientes e nada gulosas. Os seus peitos deveriam ser médios, nem pequenos demais nem grandes demais que pudessem deformar o narizinho do pequeno enquanto mamasse. Deveriam ter já pelo menos dois filhos bem robustos, dando prioridade às que tiveram varões e um parto há menos de um ano. Não deveriam ser trabalhadoras do campo mas terem uma actividade mais recatada para que o seu corpo se mantivesse mais limpo e menos suado. Durante o aleitamento seriam bem alimentadas pelos seus patrões para que o leite se mantivesse de melhor qualidade.
Assim se descrevia há 300 anos a escolha de mulheres portuguesas livres e não escravas. Mães necessitadas que deixavam de aleitar os seus próprios filhos para aleitarem os filhos de quem lhes podia pagar. E nem sempre a razão deste contrato era a falta de leite materno, sendo mais ditada esta escolha pela moda (ou hábito) da condição social da mulher pagante, apenas alterada no romantismo do século XIX que ditou maior proximidade entre mãe e bebé, considerando (finalmente) socialmente abjecto este acto de aluguer feminino que terminou definitivamente com a chegada do leite em pó.
Do fim dos peitos de aluguer de há dois séculos chegámos às barrigas de aluguer da actualidade. Mulheres igualmente necessitadas e mais pobres que vendem o seu corpo a quem o pode pagar: antes para o aleitamento de recém-nascidos, hoje para a concepção dos mesmos. Foi pedida uma moratória em sede da ONU para declarar as barrigas de aluguer CRIME UNIVERSAL, considerando-as uma mortificação e uma violência sobre as mulheres em pleno século XXI.
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