Hoje, dia 28 de abril, se comemora o Dia da Caatinga e o Dia da Educação Contextualizada, dois temas importantes que dialogam entre si. O Dia da Caatinga foi criado em 2003, em homenagem ao professor João Vasconcelos Sobrinho que provou que o bioma caatinga é único no mundo, assim, a data tem o intuito de estimular a discussão acerca da realidade dessa região. Já em 2015, as entidades que integram a Rede de Educação do Semiárido Brasileiro (Resab) elegeram também esta data como o Dia da Educação Contextualizada, para destacar a importância da educação voltada à realidade e ao contexto desta região.
A Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro, está presente nos nove estados do Nordeste, e no norte de Minas Gerais, atingindo cerca de 11% do território nacional, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, apesar da sua riqueza e caráter único é um dos biomas menos protegidos do Brasil, sofrendo ataques não só midiáticos e preconceituosos, que inclusive aparecem nos livros didáticos, mas principalmente com a retirada da vegetação nativa para implantação de cultivos do agronegócio, que insistem em desrespeitar as especificidades da natureza local.
A degradação da caatinga tem ocorrido a passos largos, assim, para mitigar os danos da desertificação desse bioma, foi pensado o projeto Recaatingamento, promovido pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), que tem como ações: recuperar as áreas degradadas nas comunidades; aplicar um plano de manejo para o uso e conservação da Caatinga em pé; promover a educação ambiental contextualizada; contribuir com a geração de renda e na construção de políticas públicas de preservação, conservação e recuperação da caatinga.
O colaborador do Irpaa, Moacir Santos, destaca que na “(...) recuperação de áreas degradadas, a principal atividade é o isolamento daquela área e fazer atividades de recuperação de solo, práticas de retenção de água, infiltração no solo (...) atividades que favoreçam a recuperação do solo (...) Assim, a caatinga vai se recuperando, e aquela ferida na área degradada no meio da área em pé, vai cicatrizando e ao longo dos anos, vai voltando a ser uma caatinga como era antes”.
Nas áreas de isolamento, o Irpaa tem implementado a agrocaatinga, atividade que gera alimento e renda dentro da área degradada enquanto ela se recupera, a exemplo da criação de abelhas nativas para produção de mel. Nesse sentido, o agricultor e representante da associação da Lagoa do Sal, em Campo Alegre de Lourdes, Juracy Batista Alves, afirma que o Recaatingamento trouxe muitos benefícios. “Com as caixas de abelhas já conseguimos esse ano uma produçãozinha (...) foi uma benção pra nós, já melhorou bastante. E também teve o barreiro que foi feito agora pra gente. Tudo é melhoria, Graças a Deus”.
Ações como essa, contrapõe a caatinga que foi historicamente tida como pobre, que não gera vida, uma imagem reducionista que até hoje é apresentada em muitas escolas. “Com essa imagem negativa é impossível você esperar que aquela pessoa, aquela comunidade, aquela sociedade cuide da caatinga, a ideia é derrubar tudo e trazer alguma coisa de fora, uma irrigação, uma mineração, uma eólica, porque da caatinga não surge nada. Então, essa visão negativa é derrubada quando você implementa a educação contextualizada”, aponta Moacir.
A educação contextualizada, citada por Moacir, se preocupa com as problemáticas do contexto onde está inserida e valoriza as vivências dos sujeitos, como reflete o representante da Resab, Edmerson Reis. “Uma educação fundamentada na realidade social, cultural, política, econômica que o sujeito está inserido, vai trazer sempre essa perspectiva do desvelar da realidade, ampliação do olhar sobre esse mundo em que se vive, e de uma contribuição no processo de formação daqueles elementos que ainda são negativos nessa região”; e “tratar da contextualização desse conteúdo para dá sentido aquilo que se ensina na escola é um dos princípios fundamentais e dos desafios da nossa educação na contemporaneidade”.
Nesse sentido, a presidente da Cooperativa de Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc), Denise Cardoso, filha de agricultores da comunidade de Caladinho, em Curaçá, expõe que seu contato com a educação contextualizada a partir da alfabetização possibilitou que ela enxergasse a comunidade com outros olhos. A educação contextualizada “possibilitava que a gente conhecesse a nossa realidade, fazer os trabalhos da escola a partir da nossa vivência (...) a partir da caatinga. Isso marcou muito na minha vida”.
Em sinergia com esse relato, Moacir ressalta que “É importante que a escola na comunidade, no município, adote a proposta da educação contextualizada e ajude as pessoas que vão para escola, a compreender o mundo a partir do chão que está pisando”.
Assim, é possível perceber que a educação contextualizada também dialoga com a conservação da caatinga, pois só o processo de educação é capaz de incidir na consciência e na ação das pessoas. Além de trazer uma visão positiva da caatinga, recuperando os saberes e sabores desse bioma único.
Texto: Eixo Educação e Comunicação
Foto: Divulgação
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