terça-feira, 19 de abril de 2022

“POR AMOR DE DEUS E DO OURO”*




*“POR AMOR DE DEUS E DO OURO”* 



Tudo começou quando hordas de branquelos barbudos e bexiguentos cruzaram a linha do horizonte, aportando naquele que seria o Eldorado das suas mil e uma ambições.


2


Batizaram, 

cristianizaram a terra pura,

Cravaram no seu seio o lenho pesado da solidão secular. 


Era o início do império do deus grego/romano/judaico – o deus dos mares, das guerras, dos exércitos.


O evangelho europeu – o “alfa” e o “ômega”, “o princípio” e o “fim” – tornava-se fiador inconteste da pilhagem sórdida dos Fernandos  e dos Alexandres; 

dos Colombos e dos Cortezes; 

dos Pizarros e dos Cabrais.


Numa mão, a espada cortante – velha conhecida dos cruzados. 

Noutra mão, a cruz ensanguentada – marca inconfundível dos onipotentes, oniscientes e onipresentes cidadãos de bem e... e de bens. 


3


Assim procediam os profetas do capitalismo comercial europeu – 

saqueadores infames investidos de honrarias reais. 


Assim procediam os ministros do deus vingador – 

responsáveis por condenar milhões de nativos à fúria dos arcabuzes e das pestes.


4


E não deu outra.


5


Em pouco tempo, 

Em muito pouco tempo,

O que fora uma rica e portentosa civilização  

Havia se transformado 

Em alguns montículos de cinza e escombro. 


6


E assim, 

Sobre a terra banhada

De sangue nativo,

E sob a sombra da espada

E do cruzeiro do sul,

Ergueu-se a civilização

Do novo mundo,

Cujo destino até hoje

Foi a da servidão

Mais vil e humilhante. 


7


Bem que o velho índio dizia que o malfeito mora para além do mar e viaja de caravelas.


 _José Gonçalves_

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