sexta-feira, 7 de julho de 2017

SEGREDOS DO VELHO CHICO

Antônio Britto (Jornalista)
Sento Sé -BA

Sento Sé-BA ( Rio São Francisco)




SEGREDOS DO VELHO CHICO
Provo que neste maio te revisitei, ignoto Sento-Sé.
Revi em ti, pelos teus recantos, sonhos e encantos
famosos, lendários, de portes múltiplos fenomenais.
Ante teus inigualáveis recortes fisiográficos, deduzi:
O cavo no solo, fio d’água afundado em Velho Chico...
Ao lado, equidistante, a serra, alta, em tira, seguindo o rio...
Quilômetros sem fim desvendados na feitura do cenário:
Terra amontoada, elevada, paralela e verdejante, antes
retirada do leito, onde agora escorre teu filete! Segredo?
Não te vi fluente como dantes te viram os índios originários.
Tu jazes sob longa e larga lâmina selada: Lago de Sobradinho.
E somes nos extensos 500 mil metros, meio raso, meio fundo.
Pergunto de boa, quase ex-rio: estás tu moribundo, Chico?
Consola-te, querido. Essa civilização que te afoga vai passar.
Tu contribuis para a virada de página do perverso capital.
Não em plena alegria, mas me destes notícias das nascentes
nas Gerais, donde puxas pureza profunda do aquífero Guarani,
só pra umedecer os formosos biomas das paragens daqui.
Ao gorjeio de passaradas, salvei atas e umbus, condes e cajás
Até acariciei mandacarus que não dão sombra nem encosto...
Cactos floridos, poesias anti-aridez da caatinga em esplendor.
Velho, bocejas “não morrer”. Orgulho de mandar no Lago.
Fazer margens subir, descer. Minguar e proliferar cardumes.
Inundar a altura de eclusas. Secar o tempo de previsões...
Sem borbulhar, teu rito vai cevando húmus para a vida.
Não muito sóbrio, curvas-te ao desvio de teu caminho.
Mesmo ameaçado, orientas plantios, jazidas, pastagens...
Assoreado, libera pedágio às aves que singram tua esfera...
Inda sopras de graça a eólica geradora da energia limpa...
Tua correnteza descreve rotas para aventuras infalíveis.
Mostras ferro, metais raros, granitos, pedras preciosas...
Prosperidade dos teus flancos bordados em fauna e flora .
Faz tempo, tu guardas ‘verdades objetivas’ para liquidez!
Fortunas escondidas, mediadas entre o jorro e a foz,
que , a teu capricho, aportarão na antiga amiga Sento-Sé.
Obrigado, Velho, por me teres dado boas dicas.
Verdades à prova de São Tomé, das que batem e ficam.
Delas não souberam indígenas originais – inocentes natos.
Ocultadas foram aos colonizadores – intrusos velhacos.
Em pouco, saberão novos atores – geração de seres aptos.
Será agora? No marco de nova era? Há clima de progresso.
Eflúvio de entes solidários. Ação recíproca essencial.
Derrame caudaloso trazendo à tona segredos imersos.
Avanço sem retrocesso. Emancipação da vida coletiva.
Há um futuro no horizonte e não é pura sensação...
Há um movimento positivo e não é mera idealização...
Há controle de gerência governamental e não é só abstração...
Pode até o Lago secar, mas a cidade sobreviverá.
Após cada estio em sua saga vêm-lhe serenos de sorte.
É do sertanejo de Euclides ser “antes de tudo um forte”.
Não há de faltar crédito para as políticas públicas.
Tão represadas que foram nos últimos tempos.
Cultura, esporte e arte podem estar em toda parte.
Não. Não faltará compromisso administrativo.
O município tem o leme da saúde, da educação...
A assistência social inspirará ânimos emergentes...
Eles fazem pulsar novos desejos comunitários!
Da potencialidade desse grandioso pedaço sabe
o generoso Velho Chico. Assou peixes pra mim!
Eu mitigava a fome, ele mastigava segredos...
Ouvidos por cristais ametistas de garimpos iniciais...
Durante esta maravilha de revisita ao otimismo
vi o renascimento público de um bem-estar emocional.
Esperança inconfidente, do centro da urbe ao meio rural.
Velho Chico: me confidenciastes tanto, tanto que até
tomei a liberdade de tratar Vossa Excelência como “tu”.
Ficas frio: decodifiquei teu recado na voz de cachoeiras.
Aquelas que deslocastes para dar rumo a novos ventos!
Abraço-te, a ti e a tua gente. (Antonio Britto)

Nenhum comentário:

Postar um comentário