segunda-feira, 30 de maio de 2022

Falta de antibióticos na maioria das cidades brasileiras desafia gestão e tratamento de pacientes com quadros respiratórios

 


Hospitais da rede pública e privada e farmácias de diversas cidades e estados do Brasil têm relatado falta de medicamentos para o tratamento de várias doenças. Em virtude da alta demanda, motivada pela chegada do frio e pelo aumento dos casos gripais, remédios para síndromes respiratórias, principalmente para crianças, desapareceram de muitas prateleiras e de estoques hospitalares nas últimas semanas.

Porém, a falta de medicamentos já ocorre desde fevereiro. Remédios mais básicos, como o antitérmico Dipirona ou o antibiótico Amoxilina, por exemplo, além dos de alto custo para o tratamento de doenças como lúpus, Guillain-Barré e Crohn, também estão em falta.

No fim de maio deste ano, uma pesquisa feita pelo Sindhosp, o Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo, apontou que 55% dos hospitais brasileiros estão tendo problemas com o recebimento de medicamentos, um cenário também agravado pelo aumento dos preços. Só em São Paulo, são cerca de 40 substâncias que não estão disponíveis nas unidades de saúde, entre elas, medicamentos considerados simples e de grande importância para o funcionamento do serviço público. Os fabricantes se defendem dizendo que faltam insumos para a produção. 

Distrito Federal, Tocantins, Sergipe, Espírito Santo, Belo Horizonte e Paraná, entre outros, são estados que já relataram a ocorrência do problema. No Paraná, segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos (Sindifarma), estão em falta em torno de 500 remédios.

De acordo com a Abrafarma (Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias), quase 95% dos medicamentos vendidos no Brasil dependem de matéria

matéria-prima que vem, principalmente, da China. Ocorre que a nação asiática teve as exportações afetadas porque está, mais uma vez, em lockdown para conter uma nova onda de casos de Covid-19.

Índia, outro importante exportador, também enfrenta um momento parecido. A guerra na Ucrânia e os protestos de equipes de portos e aeroportos, registrados com mais intensidade desde março deste ano, estão levando a área da Saúde a enfrentar severas dificuldades.

Com a falta de antibióticos, muitos estados brasileiros vêm suspendendo cirurgias e até obrigando a interrupção dos tratamentos. Outra séria consequência é que, em alguns casos, o médico acaba prescrevendo ao paciente outro medicamento na tentativa de continuar o tratamento, mas isso implica no risco de a medicação gerar resistência por parte dos microrganismos que atuam no corpo humano, ou mesmo a ineficácia do tratamento.

“O antibiótico alternativo não necessariamente será o ideal para combater uma infecção, seja por efeitos colaterais que ele pode gerar, ou pelos efeitos mais potentes do que aquela infecção precisaria”, explica Juliano Bison, coordenador da Mobius Life, empresa que comercializa produtos destinados ao segmento de medicina diagnóstica.

Juliano ainda destaca que as dificuldades causadas pelo desabastecimento atingem todos os departamentos dos hospitais, causando expressivo incremento nos custos em tratamentos inespecíficos. Isso porque, “quanto maior o tempo de permanência dos pacientes internados e menor a quantidade de pacientes atendidos, maior é a dificuldade para a condução de uma gestão técnica e financeira eficiente por parte dos médicos e dos hospitais”, explica.

Tecnologias de diagnóstico contribuem para driblar crise de abastecimento

Nesse cenário de crise, tecnologias de diagnóstico para auxiliar no direcionamento do tratamento, identificando quais pacientes estão portando infecções e qual o tipo, consequentemente, evitando tratamentos desnecessários, ainda mais no cenário de escassez atual.

Com o advento da biologia molecular e a ampla utilização da metodologia de PCR na gestão da Covid-19, por exemplo, algumas instituições têm utilizado essa tecnologia atualmente.

“Com essas ferramentas, os benefícios atingem todas as dimensões: para o paciente, a certeza de que está sendo tratado o que de fato foi diagnosticado. Para o médico, a segurança na prescrição de medicamentos e procedimentos e para gestão hospitalar e eficiência no atendimento e alocação dos recursos”, conclui Juliano.

OMS já alertava para a falta de antibióticos e ameaça de superbactérias

Em janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta para uma possível falta de novos antibióticos, fato que poderia favorecer a disseminação de bactérias resistentes a medicamentos, responsáveis por dezenas de milhares de óbitos anualmente. Na época, a OMS publicou dois relatórios sobre o assunto. Segundo eles, “a ameaça de resistência antimicrobiana nunca foi tão imediata, e a necessidade de soluções, mais urgente.

“Existem muitas iniciativas em andamento para reduzir a resistência, mas também precisamos que os países e a indústria farmacêutica se envolvam e forneçam financiamento e novos medicamentos inovadores”, alertou Tedros Ghebreyesus, diretor da OMS, em comunicado enviado à imprensa.

A resistência aos antibióticos foi considerada uma ameaça pela organização, que teme que o mundo caminhe para uma era em que infecções comuns possam matar novamente. Enfermidades curadas com relativa facilidade, até pouco tempo, podem voltar a matar cerca de 10 milhões de pessoas até 2050, 

segundo a OMS. Mais de 30 mil pessoas morrem, todos os anos, na Europa, em virtude de infecções resistentes a antibióticos. Nos Estados Unidos, o número é estimado em quase 35 mil.


Fonte: Blogdoeloiltoncajuhy 



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