sábado, 26 de março de 2022

DECIFRA-ME OU TE DEVORO"*



Novos e diferentes símbolos vão aos poucos surgindo e se incorporando à paisagem cultural das sociedades, independente de onde estas se encontrem. (A localização geográfica, aliás, é o que menos tem importado. Afinal, vivemos o tempo do não-lugar.)  


Tais símbolos são como estranhas e monstruosas esfinges, à espera de quem as decifre e as decodifique. 


Refiro-me às redes sociais, com suas mil e uma sub-redes, entrelaçamentos, algoritmos, o diabo a quatro... Essa coisa silenciosa e ao mesmo tempo estridente, que navega nas veias das gentes, dos mundos e submundos – espécie de besta-fera apocalíptica, à espreita dos assinalados das horas anunciadas.   

 

As redes sociais dizem do quanto uma esfinge é capaz de devorar, caso não seja adequadamente decifrada (diga-se: compreendida, apreendida, manipulada, devidamente operada, nem sei qual o verbo mais apropriado). 


Uma questão se impõe: como enfrentar o monstro que nós mesmos criamos? Há um segmento que diz: temos de impor limites, não é possível que esse troço se regule por si mesmo. Há outro segmento que insiste: deixa rolar, nada de censura, o jogo é duro mesmo, quem não aguentar que caia fora. E por aí vai. 


As redes sociais vieram para ficar, e não há qualquer dúvida quanto à sua importância, seja como instrumento de interação social, seja como mecanismo de consolidação do estatuto da cidadania. Elas constituem um valor e uma conquista da civilização; e, como tal, devem estar inteiramente a disposição de toda e qualquer pessoa, bastando apenas que sejam operadas com critério e responsabilidade.


Daí não ser admissível que elas existam e atuem à revelia do ordenamento jurídico, como se fossem terra de ninguém, servindo, não raro, a práticas criminosas, como temos presenciado à exaustão.


 _José Gonçalves_

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