quinta-feira, 3 de março de 2022

PANCS oferecem segurança alimentar, autonomia e diversidade à culinária dos/das brasileiros/as

 



PANCS oferecem segurança alimentar, autonomia e diversidade à culinária dos/das brasileiros/as 



Promove a saúde, respeita a diversidade cultural e ambiental, livre de fertilizantes e agrotóxicos, resiliente, rústica e de alto valor nutricional. Características atribuídas a determinadas plantas que algumas pessoas chamam de mato (sem qualquer serventia); outras utilizam para ornamentação de jardins, varandas e salas, por exemplo; enquanto outras reconhecem o seu teor nutritivo e as incorporam na dieta alimentar. Essas são as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs), espécies vegetais nativas e espontâneas, que apesar de conhecidas, não estão presentes na alimentação diária das pessoas. 


As PANCs costumam ser bem adaptadas às condições de clima e de solo da sua região, e apresentam uma ou mais partes que podem ser consumidas na alimentação humana. Na Caatinga, é fácil encontrar: frutos do quipá e do mandacaru, xique-xique, umbuzeiro, juazeiro, bredo e beldroega, por exemplo. 


“O fruto do quipá é rico em cálcio, magnésio, potássio, fósforo (...) pode ser feito doces e geleias. O fruto do mandacaru e os ramos novos são comestíveis, tem sabor adocicado e serve para fazer doces e sucos. O xique-xique tem um caule macio, serve como fonte de alimento e tem um sabor adocicado (...) Outra planta é o juazeiro, tem uma fruta pequenininha, rica em vitamina C, possui propriedades medicinais, é anti-inflamatória, antigripal, cicatrizante e expectorante”, aponta o colaborador do Irpaa, Alessandro Santana.


Outra PANC encontrada em diversos locais e rica em nutrientes é a beldroega, como explica a nutricionista, Veranubia Mascarenhas, “É impressionante como ela tem uma distribuição geográfica incrível. É rica em ômega 3, que no nosso corpo é convertido em EPA. Ela tem muita fibra, magnésio, cálcio, ferro e proteínas. É uma planta saborosa, a gente pode consumir crua e é fácil de ser preparada. Um refogadinho rápido para omeletes, para vários pratos rápidos, podemos usar também para sucos verdes”, destaca a nutricionista, incentivadora do consumo de PANCs.


O EPA citado pela nutricionista é o Ácido Eicosapentaenóico que atua na produção de substâncias anti-inflamatórias que auxiliam na saúde do coração e da circulação sanguínea, comprovando um dos benefícios das PANCs que é a promoção da saúde. “As Plantas Alimentícias Não Convencionais, além dos nutrientes, podem ter compostos bioativos, ajudando em várias ações de saúde (...) Como são ricas em magnésio, proteínas, cálcio, ferro e fósforo, podem contribuir para várias patologias. Quem consome PANC, acaba tendo como principal benefício uma alimentação saudável e equilibrada”, explica Veranubia. 


A chef de cozinha, Jucilene Melo, também destaca os benefícios nutricionais da palma. “A palma tem vitamina A, vitamina D, ferro, potássio e também um percentual de proteína. A palma no México fica entre os legumes mais nobres, é um dos mais consumidos no país. É mais rica do que qualquer outro legume”.


No início da matéria falamos sobre PANCs também usadas para ornamentação, você leitor/a pode ter na sua casa ou conhecer alguém que cultiva a coroa de frade ou cabeça de frade decorando a sala ou o quintal, pois bem, ela também é uma PANC. “A coroa de frade, também é usada na medicina popular, em forma de chá para aliviar problemas nos rins e no intestino; na culinária é empregada para a preparação de sobremesas, utilizada em receitas de bolos, doces e biscoitos”, comenta Alessandro. 


O doce de coroa de frade não pode faltar no restaurante da chef Jucilene Melo, tão apreciado por seus clientes. Além desse doce, Jucilene influenciada pela avó que já utiliza as Plantas Alimentícias Não Convencionais na alimentação da sua família, antes mesmo de se falar em PANCs, aposta na culinária com essas plantas nativas da Caatinga. “A gente faz sobremesas, bebidas, doces, crepe de palma, peixe no licuri, doce de coroa de frade, picles de mandacaru, bebida de clitória, xarope da fruta do quipá”, diz Jucilene. Uma culinária diferenciada que atrai pessoas em busca de uma nova experiência gastronômica, que valoriza a região e a saúde.


Apesar das PANCs serem ricas em nutrientes, possibilitando a diversificação na alimentação e valorização dos alimentos regionais e saudáveis, a alimentação dos/as brasileiros/as têm como base o consumo de vegetais como: feijão, arroz, tomate e alface, todos de origem estrangeira, produzidos com a utilização de agrotóxicos, prejudiciais à saúde humana e ambiental.  


As PANCs, menos conhecidas, e consequentemente, menos consumidas, não fazem parte de um sistema produtivo em larga escala para comercialização, o que diminui o conhecimento amplo sobre essas plantas, que geralmente são cultivadas por agricultores/as familiares, que, às vezes, também desconhecem a riqueza nutricional dessas espécies. Com o objetivo de mudar este cenário, e levar para mais pessoas o saber sobre a importância das PANCs, o Irpaa assessora famílias rurais incentivando a produção e o consumo de PANCs em comunidades de Juazeiro, Casa Nova e Remanso, na Bahia.  


Um exemplo do resultado deste incentivo é o agente comunitário rural, Deusimar Souza, da comunidade Bonfim, em Casa Nova, que recebeu orientações, mudas e sementes de várias PANCs, para conhecer, consumir e ser guardião e multiplicador dessas mudas e sementes. Deusimar já realizou doações para mais de 30 famílias interessadas na sua comunidade, que atualmente também produzem e consomem PANCs. “A gente consome PANCs quase todos os dias. Eu incentivo as outras pessoas, porque vão ter uma alimentação bem mais saudável”, ressalta Deusimar. 


As PANCs são uma alternativa sustentável da biodiversidade, pois são de fácil cultivo e adaptáveis às condições de clima e solo; e garantem a segurança alimentar, já que atendem as demandas nutricionais das pessoas. Portanto, inserir PANCs na dieta alimentar é uma forma de manter a saúde humana e o ambiente saudáveis; e uma maneira de incentivar a sua produção por agricultores/as familiares e também por produtores urbanos.  


Texto: Eixo Educação e Comunicação

Fotos: Veranubia Mascarenhas / Jucilene Melob

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