quinta-feira, 24 de março de 2022

ESPIRITISMO >>>DIVALDO FRANCO E O PADRE.

 


Certa vez, fui a um padre confessar (antes de tornar-me espírita). Contei-lhe sobre minhas comunicações com os mortos. Para ele eram forças demoníacas tentando me afastar da Igreja. Veio-me uma mágoa de Deus e comecei a questionar:

- Sou um bom católico, bom sacristão, adoro a Igreja, faço jejum, passo a semana da Páscoa sem comer até o meio-dia. Se Deus não pode com o diabo, eu vou agüentar? O diabo vai me vencer. Como um garoto de 17 anos, do interior, ingênuo, pode vencer o diabo se nem Deus consegue?

Entrei em depressão e fiquei com mágoa de Deus. Confessei-me ao padre:

- Eu vou me matar. Nossa Senhora do Carmo vai ter pena de mim, vai me colocar o escapulário e me tirar do inferno.

Ele me olhou demoradamente e respondeu:

- Não tome nenhuma atitude agora. O demônio às vezes nos perturba para testar a nossa fé; quando não consegue, abandona. Volte para a Igreja.

Era um homem honesto, acreditava piamente em suas idéias.

Um dia, ao confessar-me a ele, vi aproximar-se um Espírito. Tive outro conflito:

- Como pode o diabo entrar na sacristia?

Aliás eu via sempre os Espíritos. no momento da eucaristia a hóstia tornava-se luminosa quando colocada na minha boca. Às vezes, em Feira de Santana, via o cônego Mário Pessoa aureolado. No meu entendimento (católico), ele era um santo. As pessoas na hora da fé se iluminavam e eu julgava tudo alucinação.

Quando o Espírito entrou, exclamei:

- Olha, o diabo está vindo, e é mulher!

- Você vê algum sinal particular no rosto dela? – indagou-me o padre.

- Vejo uma verruga acima do lábio.

- E o que mais?

- O cabelo está partido ao meio, penteado com um coque atrás.

- E o que mais?

- Vejo um xale sobre os ombros, com pontas, um xale negro de xadrez.

- Pode ficar tranqüilo, é mamãe.

Ela “incorporou” e conversou com o padre. Quando despertei, ele me esclareceu:

- Divaldo, mamãe veio me alertar. A sua missão não é aqui, vá seguir a tarefa que Deus lhe confiou, porque o bem está em todo lugar.

Fiquei mais tumultuado, porque eu não era espírita, tinha medo, sentia-me de certo modo alijado da Igreja, mas continuava a frequentá-la e ao Centro Espírita.

Tinha conflitos de fé, principalmente quando morreu minha irmã, por suicídio. Mamãe foi encomendar missa a esse mesmo sacerdote, um homem bom, e ouviu dele:

- Dona Ana, não posso celebrar, porque o suicida está no inferno e Deus não o tira de lá.

Foi quando aprendi a primeira lição de lógica e de psiquiatria, com uma mulher iletrada – a minha mãe:

- Padre, então eu renego o seu Deus. Se Ele não é capaz de perdoar não é digno de ser Deus. Sou lavadeira modesta e analfabeta, mas a filha que perdi, eu a perdôo; como é que Deus, que a tem, não a perdoa? Digo mais, quem se mata não está no seu juízo.

Mais tarde eu viria saber que muitos portadores de psicose maníoco-depressiva PMD, vão ao suicídio.

Aprendi muito com esse homem, com mamãe, e quando eu lhe disse que não iria mais à igreja, ela me respondeu:

- Deus está em todo lugar. Se você for justo e agir com retidão, Ele estará com você. Faça o bem, meu filho, porque a verdadeira religião é aliviar o sofrimento alheio.

A partir desse acontecimento integrei-me lentamente ao Espiritismo.


Divaldo Franco (Médium)


(Originalmente publicado pela página LUZ DA EXISTÊNCIA - MENSAGENS)


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