LELÉU – CARNAVAL, BAHIA, SIM SENHOR
Por Mauro Coelho
Por falarem Carnaval, estamos diante de um choque de gerações. Os carnavais mais antigos eram presos aos sonhos do romantismo. Músicas apaixonadas, letras ricas em mensagens de amor, confetes e serpentinas que enchiam os salões e ruas complementavam os ricos ornamentos em homenagem ao Rei Momo, O luxo das fantasias cada qual mais aprimorada exigia das eximias costumeiras da época, dedicação e competência dessas grandes artistas, como aqui posso citar: D. Lidia Batatinha, D. Acilina Cardoso, D. Amáliaa Azevedo, D. Eliza Teixeira, D. Amália Freitas, Dona Semiremes Guena , D. Aurelina Bamberg (Lelé) e outras finas costureiras que se desdobravam até altas madrugadas em suas máquinas de costura para satisfazer a exigência dos ricos foliões.
O lança perfume, rodouro metálico, companheiro inseparável dos foliões, enchia os bailes carnavalescos de perfume que seduzia com a sua fragrância as lindas mulheres que, apaixonadas, deliravam e cantavam as belas poesias musicais, Pierrot Apaixonado, Colombina, Palhaço, Bandeira Branca, Máscara Negra e tantas outras canções que até hoje arrancam lágrimas dos saudosistas o levantam as festas dos carnavais da atualidade.
Não quero criticar os carnavais de hoje, cada qual vive a sua época. Os velhos de hoje sentem saudade, os olhos embaçados ainda deixam escapulir gotas de lágrimas que traduzem o mundo que viveram, as festas que assistiram, as paixões que tiveram, os amores que
cultivaram O Rei Momo, é o mesmo daquela época, o mesmo que recebia a chave da
cidade e anunciava a responsabilidade da decência, da ordem, do respeito, da tranquilidade dos súditos na efervescência do caldeirão carnavalesco, tendo a alegria como palavra de ordem, de comando, da alegria que era o extravasamento da alma que se embriagava de prazer e de luxúria, de risos e gargalhadas, de paixão o de amor. Era na verdade um outro mundo, outra geração, outros costumes, outro modo de viver e de agir.
O meu homenageado de hoje é Cicero Menezes, conhecido carinhosamente como Leléu. E herdeiro daquela época, Carrega consigo a lembrança cultura, da educação, do comportamento social que dignifica o moço elegante da época, dando-lhe firmeza nas atitudes e brilho no caráter. E esta cultura histórica serviu de inspiração para Leléu criar várias alegorias que se encontram incrementadas no carnaval da Bahia, alegorias como: Mamãe Sacode, criada em 1972, Mão e Contra Mão, etc., foi diretor dos blocos Pareo, Top 69, Bloco Lá Vem Elas, que era formado por trezentas mulheres lindas que deixavam os foliões radiantes, chelos de amor, emoção e apaixonados, Bloco da Aurora, Bloco do Papagaio, Bloco da Mordomia e muitos
outros. Colaborou enfim com todo o carnaval soteropolitano. Trouxe o povo para o asfalto e, lado a lado com Dodó e Osmar, transformaram o grande tapete preto que liga a Praça Campo Grande, Avenida Sete, até a Praça Castro Alves no maior Clube de Salvador, onde todos se divertem sem precisar de carteiras de sócio.
Leléu é Bonfim, Leléu é Bahia. Seu coração sempre pulsa mais forte, quando se fala em – Os
Internacionais – bloco de rua que ele transformou em clube para que não tivesse dono, para ficar para a posteridade. Criou uma diretoria com um estatuto perfeito e outras milongas mais como manda o figurino e é o único bloco de rua que passou a ser clube Os Internacionais, clube que fundou em 1966, que continua fazendo sucesso até hoje e de que Leléu continua sendo Conselheiro nato com muito prazer e orgulho.
Nascido em fevereiro, mês carnavalesco, Leléu não poderia ser diferente do que é. Esta figura folclórica que conhecemos e queremos bem, representa alegria. Este ano completou 64 anos de vida bem vividos.
Lembra com saudades seus tempos de glória quando participava efetivamente das grandes paradas carnavalescas. Lembra também do carinho que recebia dos seus amigos, das colombinas e das lindas mulheres que conquistou.
Lembra tudo com saudade e com carinho, dos velhos e bons tempos que viveu e quando há uma oportunidade conta para seus amigos mais íntimos suas aventuras, suas vitórias e glórias e entra finalmente para a história da nossa cultura.
De volta a sua terra natal, não encontra mais os velhos costumes, o carnaval que conheceu, que deixou e que tanto lhe inspirou para criar o seu mundo de fantasia, mas graças ao nosso bom Deus, no conterrâneo e amigo Caculé, como o chamam seus amigos de infância, Leléu
continua firme e forte sendo o mesmo jovem espiritualmente.
Uma piada aqui, outra acolá, vai levando a vida, espalhando felicidades e enchendo o coração dos seus amigos de alegria que ficam com largo sorriso nos lábios, vibrando com sua arte de humorista.
Fã de cervejinha, exigente e cuidadoso em tudo que faz, desfruta também do privilégio de ser sobrinho da poetisa, escritora e professora Olga Menezes, que é uma reserva moral e uma personalidade de alto nivel em nosso meio social e cultural. Vez em quando Leléu vai a Salvador, para rever seus amigos e sua obra de arte que deixou plantada no coração dos foliões baianos, festa que hoje brilha com muitos dos seus ensinamentos e é agitada com os
vibrantes e fortes sons dos trios elétricos, inspirados por Dodó e Osmar, que encontram-se espalhados em toda a cidade e que conta atualmente com a participação especial dos nossos cancioneiros baianos: Caetano, Gal, Gil, Bethania, Carlinhos Brow, Netinho, Ivete Sangalo (filha do inesquecível e nosso conterrâneo Alssuz Sangalo), Tonho Matéria, Daniela Mercuri, Armandinho com seu bandolim, Pepeu Gomes, Moraes Moreira o muitas outras feras que agitam o carnaval da Bahia, que é o maior do Brasil.
Esta simples crônica, dirigida ao nosso irmão Leléu, dedico carinhosamente a nossa querida amiga e escritora Lidinha Senna Gomes, vulto importantíssimo em nosso meio social e cultural e que dedicou parte da sua vida à cultura Bonfinense.
Jornal Lampião – Março de 1995