VIVER É PERIGOSO - (Com Antonio Britto)

VIVER É PERIGOSO - 

Antônio Britto (Jornalista)

Dois meses depois, aqui estou eu, sujeito de tantas limitações, agora a acrescentar a incapacidade de abordar em ‘tempo hábil’ desacertos que contra mim mesmo cometo. Volto ao contato regular com amigos, ainda de leve, mas “são e salvo” para a condição aristotélica de “animal político” – inescapável a mim e a você, condenados que somos a existir na interdependência da vida social.

Volto ainda de leve, ressentindo menos o efeito do baque sofrido. Aliviado para a tarefa de poder contribuir na luta histórica pela emancipação humana à plena liberdade. Valorizar a vida da espécie. Rechaçar a degradação do meio ambiente, em prol da existência do e no planeta – nossa casa de morada. Enfim, reverberar contra guerras – desde as pequeninas que dividem as pessoas às que são montadas para separar nações. Não é pouco, hein Dieter Kempf, Ana Fogaça! Mas se passarinhos apagam incêndio com orvalho, como fugirmos ao fascínio de cumprir a nossa parte?

Já chego obedecendo ao Facebook: se quer saber o que fulaninho ou fulaninha andam fazendo, solicite amizade... Ou seja: bisbilhotai a vida alheia! Logo abro uma página virtual e caio na Taverna do Bardo. Ambiente sombrio refletindo histórias de antanho e trazendo-as à contemporaneidade. O estilo me interioriza no labirinto da taverna e dou de cara com velho sábio que nela habita. Com paciência de prece, o empedernido ancião, perscrutador de mistérios e segredos atemporais, está a sacar de mais uma... Sóbrio como um pilar dos tempos rebate a ideia de que “o ouro compra tudo”. O curto discurso sai de si, mas vem de tudo, vem do todo. Mexe fundo no que vai entre o “ser” e o “ter”. E calando de vez o seu contendor, conclui: “O tesouro mais valioso que um homem pode cultivar são os seus sonhos”. Bingo!

Se esse velho, originário d’outras eras, chegasse ao século XX curtiria a grandiosa indignação de José Saramago ao escrever o “Ensaio contra a cegueira”... Fecho a página do Bardo sem me desligar do autor português e juntando um silencioso “valeu” para Mara Guimaraes, Pedro Sá, Jacira Sa, Maisa Antunes. Sentindo que cumpri a ordem do face, passo agora a cumprir a minha: postar algo no meu mural e me deixar bisbilhotar também:

Hoje tomo definitivamente como véspera para a viagem que...

(Antonio Britto) Jornalista.