Por Marcos Cesário
Acordei, levantei da cama, abri a janela e me disse o que me digo todos
os dias: mais um dia... Para Maelton, de 24 anos, que foi enterrado há
três dias: menos um dia... Maelton lutou como podia, cumpriu seu dever
de lutar por sua vida. Quando os médicos lhe disseram que a cirurgia
para tentar remover o tumor em sua cabeça poderia trazer-lhe sequelas,
ele não pareceu aos seus familiares, que estava com medo. Ele apenas
disse que não se importaria tanto em ficar surdo ou mudo, só não queria
ficar cego. Eu também não quero, Maelton. Sempre tive medo de não ver as
coisas mais simples: Como são simples os verdadeiros milagres
(Exupéry). Sempre tive medo de não enxergar o que é verdadeiro e
essencial na vida: o Amor.
O que é a morte? Ninguém sabe. Eu acredito que a morte é ampliar o
olhar; é ver e sentir de outras formas. Quando escrevi um pequeno
bilhete para Maelton há menos de dois meses atrás, logo depois que os
médicos descobriram um tumor avançado em seu cérebro, eu comecei a
conviver com ele em meus dias, em meus pensamentos, lhe desejando o que
desejo para mim: Tempo, para viver sem barulho no silêncio dos meus
dias, naquele silêncio onde as coisas mais importantes acontecem, assim
como, dia a dia Maelton vivia ao buscar sua esposa no trabalho ao final
do expediente,e ia para casa encontrar sua mãe, seus irmãos, irmãs, seus
sobrinhos, encontrar todo dia aquilo que nos permite ser quem somos, o
olhar de quem nos ama e de quem amamos.
E me pergunto de novo: O que é a morte?
Não sei, mas desde quando minha mãe morreu aprendi a encontrar cada vez
mais sua presença em minha vida. Passado mais de dez anos ainda me
comove e me amplia como homem os seus gestos mais simples. Era tão lindo
como minha mãe sorria... Não será diferente com Maelton, o amor dos que
não deixarão de amar nele cada gesto, aqueles que pareciam mais banais,
como uma forma de rir ou de chorar, de pentear o cabelo... Estas
lembranças trarão, pouco a pouco, Maelton de volta, porque as pessoas
amadas vivem dentro de nós. Só quando deixamos de amar alguém é que ela
morre.
Depois de depois de amanhã esta angústia, esta dor de ferida exposta vai
passar, e a morte será vencida pelo amor de cada recordação vivida por
todos aqueles que viveram nele e com ele. Maelton ressuscitará.
Desejo a todos os que estão sofrendo esta dor, este desespero de ver um
jovem, um filho, um irmão, um marido,um amigo... partir, o consolo das
lembranças que o amor em breve lhes trará. O que posso, e como posso, é
através destas inúteis palavras oferecer a única coisa que me deram de
verdadeiro quando minha mãe morreu: o Silêncio.
Maelton, até logo.
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