Beijo Gay |
Minha filha de 16 anos esteve hoje aqui em minha casa e me perguntou o que eu achava desta briga entre os grupos evangélicos e os grupos gay, eu respondi: Filha, acho que eles se parecem muito... Quase todas as comunidades evangélicas e quase todas as comunidades gay estão demonstrando uma incapacidade de respeitar a diferença, logo eles, que tanto defendem o desejo e as limitações dos outros...
Fui criado em igreja protestante e aprendi a detestar tudo que não era protestante: catolicismo, candomblé... E aos 13 anos de idade entrei pela primeira vez, e todo desconfiado, em uma igreja católica; não havia ninguém lá dentro, eu abri o zíper da minha calça e urinei dentro da igreja... Sai de lá rindo, satisfeito por ter urinado “na casa do demônio”... Hoje, eu me envergonho tanto disto...
Não simpatizo com o pastor Marco Feliciano. Ele usa as palavras e o olhar como um fascista... E a Bíblia nunca foi para mim um manual de conduta, mas, de vez em quando, eu abro a Bíblia, pulo certos disparates e leio os belos cânticos de Salomão e Eclesiastes... E posso ouvir Cristo, o poeta descrito por Oscar Wilde em De Profundis: “Um homem de justiça poética, como toda justiça deveria ser”... E fico emocionado ao ler Cristo afirmar no novo testamento: “Quem não estiver errado atire a primeira pedra”... “Deixai vir a mim as criancinhas, porque a elas pertencem o reino dos céus”... Lindo! O reino dos céus é um parque de diversões... Já estou sentindo as pedras passarem perto de minha cabeça... Tenho que tomar cuidado com o que escrevo.
Um dia destes abri um livro de um militante gay, onde de forma crua e grosseira ele tenta dividir o mundo em duas partes: os gays sensíveis e os não gays, machões, intolerantes e insensíveis... Este pseudoescritor é um fundamentalista e acha que escrever pornografia é um ato revolucionário; ele está alguns séculos atrasado... Um amigo meu, que é gay, leu alguns trechos do livro deste fundamentalista gay, e não gostou...Wilde bem que alertou: “Um crime pode não ser vulgar, mas a vulgaridade é um crime”.
Por outro lado, assisti um vídeo em que o deputado Jean Wyllys, que me parece saber defender suas ideias e seus sentimentos com força, beleza e simplicidade: “Se eu faço algum enfrentamento é contra os fundamentalistas religiosos e os que não são...”. Concordo com Jean e estou com ele nesta luta. Eu sou contra a todo fundamentalismo, seja religioso ou gay... Lembrei de Rui Barbosa: “Justiça não é tratar os iguais como iguais. Justiça é tratar os desiguais como desiguais”.
Eu tenho amigos gays e evangélicos. E um dos amigos que mais amo, G., é pastor evangélico, homem justo, corajoso, bom pai, bom amigo... e ele me disse que Marco Feliciano “não o representa”. E, nisto, não há nenhuma distinção entre ele, eu e os meus amigos gays. Quando meus amigos entram em minha casa - evangélicos ou gays - riem e choram comigo, eles são íntegros e elegantes até em discordar com minhas opiniões, tolerantes com minhas incompreensões e, acima de tudo, amorosos... O que falta nesta guerra de militantes evangélicos e militantes gays, o que falta aos que defendem o amor a Cristo e os que defendem o amor livre de definições, é mais elegância, menos insultos, menos vulgaridade e muita compreensão às limitações do outro. Falta justiça... O que falta mesmo é o que os dois lados tanto acham que defendem: O AMOR.
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