Em pleno período crucial da grande pandemia, de muitas consciências não saiu a ideia da festa pagã e seu cortejo de abusos e permissividade. Nos referimos ao carnaval.
Tendo suas origens em eras priscas, na antiga Roma pré-cristã surgiram homenagens ao deus Saturno, passando à posteridade como Saturnálias. Eram dias consagrados a todo tipo de libertinagem e devassidão, ante a justificativa de se permitirem aos escravos e senhores intercâmbio de natureza sexual, resultando daí imensos desastres afetivos. Chegou a Veneza, na Itália, com características de seus badalados bailes de máscaras, onde cada um se permitia esconder a própria amargura durante os festejos ruidosos nas residências faustosas. Atingiu a península ibérica e com os portugueses veio para o Brasil na forma do *entrudo*, onde a ingenuidade e o deboche público deram certo ar de naturalidade à grande festa popular. Novos elementos se incorporaram aos festejos e hoje as grandes metrópoles possuem seus próprios corredores de prazer incontido, perdurando em algumas cidades por mais de uma semana. Das palavras "a carne nada vale"extraiu-se as sílabas que compõem o verbete tão aguardado por muitos.
Entretanto, abatendo-se sobre o dorso da sociedade a pandemia alterou hábitos e mudou costumes, constrangendo o ser a uma reflexão sobre o estilo de vida mantido até aqui. Restrições sanitárias, proibição de aglomerações, zelo por sua e pela saúde alheia impuseram a todos uma releitura da festa da carne, sob o comando da figura esdrúxula de um monarca decadente.
A maturidade da consciência não sempre chega pelas vias das grandes e profundas reflexões, o que seria desejável. A dor, como escolha de muitos, impõe que o ser reavalie suas deliberações nas trilhas do próprio destino, refazendo caminhos e optando pela morigeração dos costumes e dos desejos longamente represados. O investimento das parcas forças morais deixam de ser canalizadas para as fugas espetaculares e para o fingimento de uma falsa e passageira alegria, regada por álcool e excesso de toda ordem. O ser é chamado pelas atuais circunstâncias a cuidar de seu patrimônio físico e mental, priorizando a transcendência até aqui ignorada.
Período propicio para investimento na cultura. Maior envolvimento com a família, apertando laços com os afetos com quem divide a jornada. Reflexões sobre a morte, cujo cutelo devastador paira sobre a cabeça de todos os encarnados. Abandono da culpa como herança da teologia arcaica e infantil e maturação da responsabilidade que cabe a nós todos, neste momento grave da civilização terrestre.
Aquele que elegeu Jesus como modelo e guia não possui disposição nem tempo para o festival ilusório da carne e suas manifestações de loucura. Sabe-se um Espírito em lutas íntimas contra os próprios arrastamentos perniciosos e as más inclinações, trabalhando arduamente para superá-las no cadinho dos testemunhos da renúncia e da abnegação.
Tem consciência de que sua passagem pelo corpo é breve intervalo entre o berço e o túmulo, e por isso aproveita cada instante para entesourar valores que não sofrem assalto dos ladrões nem corrosão da ilusão passageira.
Se já travastes contato com a mensagem do Cristo sabes, à saciedade, que Ele te convida a seguir a estrada por enquanto ignorada pela maioria iludida. Ela está assinalada por intermináveis lutas contra as paixões, o fascínio ilusório do mundo e as sensações passageiras.
Pediste trabalho na oficina planetária que projeta o mundo regenerado. Ele te deu serviço. Não menosprezes a subida honra de cooperar com Jesus na construção da nova era.
Usa o tempo que te foi concedido na carne na edificação de tua iluminação íntima, avançando entre as sombras do mundo para tua realização intelecto moral.
O tempo é escasso. Não o terás em demasia.
Marta (Espírito)
* Mensagem recebida pelo
Médium Marcel Mariano
Juazeiro, 15.02.2021
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