Contemplando a acelerada decadência da sociedade atual, muitos olhos se fixam num passado distante, quem sabe esperando que do ontem surja uma esperança para o soçobro moral de nossos dias caóticos.
A velha Roma e seus palácios, erguidos à custa de saque e rapinagem de incontáveis conflitos.
O Egito e suas silenciosas esfinges, a fitarem, pelos olhos de pedra, a vastidão do deserto, em contraste com a calmaria do Nilo.
A Fenícia de outrora, de onde zarpavam argonautas intrépidos, buscando a conquista de mares e oceanos nunca antes navegados.
O reino da Lídia, onde Creso guardava inestimáveis tesouros de ouro e diamantes, colossais fortunas de minérios raros, o que não impediu que sucumbisse ao avanço das tropas de Ciro, o conquistador bárbaro.
Jerusalém e seu templo faustoso, onde o colégio de sacerdotes supunha guardar insondáveis segredos da aliança com o Divino, olvidando assistir o povo miserável, que estertorava sob a miséria acachapante e a dominação militar de Roma.
A velha Grécia, seus templos silenciosos e as tradições dos deuses de pedra, indiferentes aos estigmas dos pobres mortais.
A Índia, onde Gautama inaugurara um tempo de buscas existenciais, tentando equacionar o sofrimento ao apresentar propostas de superação da dor e das lágrimas.
Sim, poderemos mentalmente viajar por incontáveis culturas e civilizações antigas, de cada uma delas extraindo preciosos alfarrábios de ensinos e textos de imorredoura beleza, mas nenhum cântico antigo, nenhum mantra ou sortilégio de templos iniciáticos poderá substituir o esforço do autoaperfeiçoamento.
Somos herdeiros de nós mesmos.
Construtores do próprio destino.
Semeadores num tempo e ceifeiros logo em seguida.
Luz e sombra nos caracterizam a marcha ascensional.
Num século, servos da tolice e das sombras, assalariados das trevas e empreiteiros do crime. Exaustos dos resultados das infelizes conexões com a ignorância e o despotismo, choramos na beira dos penhascos de nossas amarguras e clamamos pela Divina Misericórdia.
O rio do esquecimento nos traga uma vez mais a personalidade em conflito e a mortalha do corpo nos oculta a fealdade espiritual. Agônicos, volvemos às procelas da experiência material para acerto de contas com a contabilidade divina.
Escassos gestos de fraternidade. Reduzidas horas de serviço na semeadura da esperança.
Cardos dolorosos denunciam as mãos que ceifaram vidas e apagaram a alegria, mas a bondade que corrige e a justiça excelsa que educa nos lapidam vagarosamente no curso de incontáveis milênios.
Sublime luz se nos faz candeia da noite escura da alma.
Afetos nos estendem os braços em auxílio nas horas de testemunhos difíceis.
Úteros atormentados nos acolhem, revestindo-nos outra vez da carne purificadora.
O ninho familiar ressurge por abençoado núcleo de experiências coletivas.
O matrimônio se faz resgate de amores tripudiados. Pobreza e limitação orgânica, em inúmeras circunstâncias, surgem por freio aos disparates de outrora.
E quais exilados em país estrangeiro, choramos copiosamente a saudade dos amores, a distância do verdadeiro lar e a ânsia por reencontrar a felicidade perdida.
Nunca nos faltou o amparo celeste. Em todas as épocas, o olhar do Divino Amigo esteve sobre nós.
Quais Saulos enlouquecidos, buscando silenciar a Boa Nova, Ele nos despertou na Damasco de nossa reconstrução íntima.
Nos derrubou do corcel de nossas paixões.
Ó, viajante das estrelas e peregrino dos insondáveis caminhos da evolução, silencia teus clamores e escuta a celeste sinfonia de bênçãos! Em torno de ti, o sussurro do vento brando, o murmúrio de águas tranquilas, o trinar de pássaros alegres, quais vozes argentinas em sinfonia inacabada.
Vieste do pó das estrelas.
Dormiste no mineral, sonhaste no vegetal, te agitaste no animal bravio e ora sonhas no hominal.
Tua destinação é o anjo e teu idioma futuro será a intuição.
Reverencia teu Cristo íntimo. Vela com Ele por uma hora, ante a agonia que se avizinha, e te fazendo vexilário da harmonia e da luz, prossegue estrada afora.
O pretérito agora é depósito de velhas fotografias. Teu futuro é roteiro de teu filme de amanhã.
Teu hoje é teu palco de atuação decisiva.
Luzes, câmera, ação!
Marta
Juazeiro, 20.07.2025
Médium: Marcel Mariano


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