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Dificilmente se conseguirá abarcar as inúmeras possibilidades evolutivas à disposição das criaturas humanas. Situada no orbe terrestre para evoluir e aperfeiçoar-se incessantemente, tem peregrinado por estradas ímpias e tortuosas, elegendo aquilo que melhor atende ao seu paladar evolutivo.
Desenvolveu a ciência, organizando a matemática e a biologia, a história e a química, bem como um incontável número de conhecimentos de natureza científica, que presentemente o beneficiam na estrutura em que se agita nas teias da evolução. Do átomo, concebido por Demócrito e Tales de Mileto até a tabela periódica dos elementos, estruturada por Mendeleev, devassou o infinitamente pequeno e dele extraiu segredos assombrosos.
Da física primitiva aos modernos engenhos que voluteiam pelo espaço infinito, atravessou incontáveis séculos entre retortas e tubos de ensaio, teorizando e revendo apontamentos, buscando entender o equilíbrio dos astros e a harmonia do cosmo.
Da trilobita ao verme, do vírus desconhecido às modernas vacinas, o percurso na higiene e da educação sanitária foi extraordinário, culminando numa sociedade que vive dilatados anos no corpo precário, hoje cercado de admiráveis recursos para reverter doenças e erradicar pestes, outrora destruidoras.
Da roda ao ônibus espacial, da machadinha de sílex ao drone kamikaze, do arco e da flecha aos modernos fuzis automáticos, queimou muito fosfato até obter um equipamento que atendesse suas necessidades.
Saiu das cavernas e alugou as palafitas. Destas, gravitou para a taba e em seguida fundou cidades amuralhadas, onde se ocultou de seus adversários.
Se permitiu ao escambo para obter alimentos e vantagens. Escravizou e foi escravizado.
Vestiu a púrpura real e também habitou o casebre desmantelado.
Ergueu templos suntuosos, onde se posicionou como hierofanta temível, conduzindo as massas em êxtase. Ocultou segredos do povo e manipulou multidões para obter vantagens indevidas no campo da fé.
Nesse largo período antropossociopsicológico, amou e odiou, temeu e se fez temido, matou e morreu.
Reduzido a pó, teve as cinzas corporais levadas pelo vento bravio da indiferença e do menosprezo. Até que a palingenesia o arrebatou de novo no torvelinho do incessante processo berço-túmulo, túmulo-berço.
Começou, vagarosamente, a entender que já derramou muito sangue, produziu muitas lágrimas e espalhou a orfandade e a viuvez para atender criminosos caprichos do ego tresloucado. Qual ator, volveu incontáveis ocasiões ao palco dos próprios erros, retificando papéis, abolindo máscaras e deixando de ser protagonista de tragédias sem fim.
Vem reescrevendo sua própria história. Faz rascunhos em excesso e nem sempre tem tempo de passar tudo a limpo, conquanto imortal.
Vinte séculos de mensagem cristã no cenário atormentado das vidas humanas. Dois mil anos do resgate da própria identidade.
Agora, não somente sabe. Compreende.
Não só raciocina. Pode amar.
Já consegue se colocar no lugar do outro em vários momentos.
Possui crença, mas anseia por saber.
Fez-se religioso, mas olvidou amadurecer a própria religiosidade.
Tateia o invisível, com receio de se admitir transitório no corpo precário.
Ó, homem, eleva-te acima destes grilhões materiais e contempla o infinito! Cerra os olhos por instantes e perscruta esse mundo interior, ainda desconhecido e quase nunca palmilhado.
Silencia teus gritos de loucura e posse, permitindo que o Cristo que se agita em tuas traves íntimas se faça pássaro livre, te arrebatando das paisagens sombrias para os céus de estonteante claridade.
Além, muito além de tuas ilusões, um paraíso de luz e paz te aguarda.
Desarma-te.
Ora no templo interior.
Serve.
Perdoa.
Acende tua lamparina e ruma para o alto. Tua fatalidade é a perfeição relativa, coadjuvando com Deus na obra da criação que nunca cessa.
Marta e Rubens Romanelli.
(Espíritos)
Juazeiro, 22.06.2025
Médium: Marcel Mariano