Delfos... imagem ilustrativa
Evocando os dias transatos da humanidade, indiscutível localizar o berço da velha Grécia como possuidora do mais célebre templo de peregrinação religiosa do passado. Delfos, hoje um amontoado de ruínas e patrimônio cultural da humanidade, tombada pela UNESCO, ainda conserva os últimos vestígios de uma construção colossal, onde uma pitonisa se colocava à disposição dos peregrinos fatigados, sedentos por revelações acerca das incógnitas do destino e das amarguras terrestres. Apolo, o deus da luz, periodicamente descia do monte Olimpo ao contato com os mortais em conflito, buscando revelar o futuro e apontar rumos novos.
Carnac, Luxor, Memphis, Babilônia, Jerusalém e outros centros da cultura antiga e do profetismo ancestral não chegaram a ter o brilho de Delfos, que se tornaria famosa por sua intérprete dos vaticínios divinos.
Sócrates ali esteve e pôde replicar a frase que ainda nos tempos presentes se faz verdadeiro desafio para os cérebros agitados - conhece-te a ti mesmo!
Continua prevalecendo em nosso agitado mundo tecnológico a ânsia de conhecer detalhes da vida alheia, em particular as quedas morais e as viciações, a fazerem a alegria de curiosos e ociosos. Esquadrinhar os próprios conflitos reclama paciência e determinação e, quando se constata o quanto estamos distantes da perfeição, muitos abandonam a própria anamnese, preferindo a varredura nas feridas alheias.
As modernas Delfos estão em super computadores ou em depósitos de arquivos nas nuvens, sempre correndo o risco da chuva forte, onde esses dados sigilosos possam cair no domínio público. Quem aceitaria, de bom grado, ter a vida devassada, expondo as entranhas dos comportamentos ou sendo descoberta nesse ou naquele delito de natureza fiscal?
A intimidade é um dos bens mais preciosos da pessoa humana, e seus segredos somente a consciência e os céus são sabedores. O máximo que a pitonisa, sob influência de Apolo poderia dizer, era vaticinar o porvir, preparando o caminhante para as surpresas da estrada.
E por falar em estrada, que ninguém esqueça a D'Ele, assinalada por dificuldades desde a estrebaria até o monte da caveira.
Berço simples e família pobre. Uma carpintaria a sustentar a família, colocando na mesa o pão suado de cada dia.
A ausência paterna e como primogênito, a tutela dos irmãos mais novos.
Depois, o chamado da vida para a semeadura da revelação nova, que penetraria Israel como afiado punhal, luarizando os escritos antigos.
Em vez de justiça arbitrária, compaixão pelos infelizes e vulneráveis.
Reabilitação da mulher, excluída da vida social e religiosa.
Orientação para condução da própria vida com base na ética e no amor, e não mais nas determinações do farisaísmo oportunista.
Levantamento dos caídos e soerguimento dos pisoteados pelo tacão da política desumana.
Visão de futuro e preparação para um reino que não tinha bases fincadas no ouro e na prata.
Silêncio ante as ofensas e oração em favor dos agressores, pois que eram (são) doentes da alma, pesando negativamente na economia de uma sociedade igualmente enferma.
A pitonisa vigorou seu trabalho por muitos anos. O Mestre Galileu só atuou publicamente por três anos, segundo as narrativas bíblicas, tempo suficiente para dividir a história em duas, cravar uma filosofia profundamente otimista e alterar toda uma geração, que até hoje o tem como filho de Deus e messias de um novo tempo.
Delfos virou ruínas.
Jerusalém atualmente é cenário de guerra.
Onde buscar, em meio a uma sociedade em convulsões de toda ordem, orientação para viver, diretrizes para sobreviver e alimento espiritual para almas tão sedentas?
Novamente o cântico das bem-aventuranças parece linfa nesse deserto das aspirações espirituais: bem aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos!
Sim, Mestre, nunca tivemos tanta necessidade de buscar a Delfos íntima como nos tempos modernos, cheio de claridades externas e sombras interiores, nos exigindo decisão firme:
~ Jesus ou Barrabás?
Irmão X e Marta ( Espíritos)
Salvador, 30.05.2025
Médium: Marcel Mariano