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Palpita, desde a mais remota antiguidade, a ânsia do ser em descobrir o porquê da vida e o motivo pelo qual ele existe. Deambulando de país em país, se fez peregrino de santuários afamados e esteve com videntes e oráculos, magos e profetas.
Bebeu a sabedoria ancestral no Mahabarata, no livro dos Hupanishards, no Torá ou no livro dos mortos dos egípcios, sempre na ansiedade de encontrar a resposta pronta, a equação exata, o milagroso elixir da saciedade espiritual.
Incontido, partiu para viver experiências no seio de comunidades remotas, clãs de anacoretas e monges, buscadores da verdade e frustrou-se quando não obteve a elucidação do destino e a exata compreensão do porquê da vida.
Meteu-se nos negócios ou fez do chão o palco da agricultura de subsistência, quem sabe esperando que árvores e manadas de irracionais pudessem traduzir o sentido existencial.
Junto a outros, ergueu templos e castelos, palácios e santuários, imaginando encarcerar deus entre as quatro paredes de um nicho recamado de ouro e prata, mas percebeu, desencantado, que o Divino não cabe numa hóstia nem se encerra numa ânfora de vinho velho.
Jogou-se no mar, atravessou mares e oceanos jamais percorridos, descortinando terras verdejantes e selvagens desconhecidos, onde o desejo por descobrir os segredos do cosmo era análogo.
Fez fortuna e tudo perdeu num piscar de olhos.
Embriagou-se em tabernas sórdidas e tragou a tequila ardente, imaginando que na alienação dos sentidos pudesse contemplar a face do sagrado.
Vencido pelo cansaço extremo, afogado em prazeres duvidosos, prematuramente envelhecido no corpo precário, percorreu uma necrópole e deu-se conta da brevidade da existência. Anotou, aqui e ali, o epitáfio desse ou daquele viajante da agonia, sôfrego passageiro do mesmo comboio. Começou a vislumbrar, entre lágrimas salgadas, o quanto custa viver.
Aquietou as buscas insanas e ouviu pássaros trinando, com suas vozes argentinas, nos galhos da laranjeiras. Percebeu a melodia do vento, farfalhando a copa das palmeiras vetustas. Percebeu flores miúdas entre a relva verde do chão. Gotas de orvalho na corola de flores perfumadas, ninhos suspensos entre espinhos e colmeias agitadas de abelhas em rochas inacessíveis.
O caos parecia ter uma ordem implícita. Cada ser executava sua tarefa sem incomodar o outro. A formiga dava conta de seu formigueiro, o besouro polinizava o jardim e cada beija-flor vinha sugar seu néctar vital.
Em tudo, o hálito divino, uma força suprema, uma inteligência maior, um regente universal. No aparente contraste, uma harmonia insuspeita, um equilíbrio não visto, não contemplado.
O ser silenciou seu tumulto íntimo, acalmou suas águas interiores agitadas e se permitiu escutar o silêncio eloquente da sinfonia excelsa.
Um réquiem de paz.
Uma cantata de amor.
Uma ópera de maravilhas.
Voltou-se para si mesmo e localizou seu Deus interior, libertando o sagrado que jazia torporoso em seus recônditos profundos.
Iluminou-se.
Transcendeu.
Deixou de perguntar e entendeu porquê existe e para que vive.
Fez do amor a estrada, o serviço tornou-se seu veículo de movimentação e a esperança, qual gaivota de luz, acompanhou seus dias até o futuro sem fim.
Elegeu Jesus como modelo e guia.
Fez-se uno com Deus.
Marta (Espírito)
Arraial D'ajuda, 08.06.2025
Médium: Marcel Mariano


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