domingo, 29 de junho de 2025

Tudo tem seu tempo

 


Imagem ilustrativa


Dentre as inúmeras literaturas contidas no velho testamento, o livro de Eclesiastes se apresenta como sendo uma funda reflexão sobre o crepúsculo da existência. Atribuído ao rei Salomão, filho e herdeiro de Davi, contém anotações profundamente pertinentes ao tempo que atravessamos, onde as buscas existenciais parecem unicamente concentradas no possuir coisas, olvidando-se a impermanência de tudo.

Siddhartha Gautama, o Buda, cerca de quatro séculos e meio antes de Jesus, já tinha estabelecido na Índia um conjunto de princípios, conhecida como as quatro nobres verdades, onde o sofrimento é analisado sob a ótica da evolução e do pensamento, demonstrando como o ser se agarra aquilo que é transitório, culminando em desespero e agonias superlativas quando supõe perder aquilo que nunca teve como posse definitiva.

O livro de Eclesiastes, no seu capítulo três, situa o tempo como marco de começo e término das atividades do Espírito em certo momento de sua experiência evolutiva. Se houver semeadura, haverá colheita. Se o ser nasce, certamente haverá de morrer um dia.

Sob análise psicológica e emocional, o interessado encontrará fecundas reflexões acerca de um tempo farto de cultura imediatista, onde o conhecimento de agora logo mais é superado por novas descobertas, evidenciando a dinâmica da vida. A propriedade de um momento passa, em questão de minutos, a outras mãos, que igualmente terão que repassar o tesouro a outros mordomos sem que, no final, qualquer um deles seja dono de coisa alguma.

Somos simples usufrutuários da imensa graça de Deus, que concede, a título precário, a administração desse ou daquele patrimônio da Divindade, a fim de que o aprendiz saiba como dispensar os dons e as posses em favor do progresso coletivo.

Amarguras surgem no romper da aurora e somem no tremeluzir das estrelas. Decepções recambiam iludidos de volta aos trilhos da verdade.

Perdas sinalizam o exercício do desprendimento. Investimentos aparentemente perdidos retornam com outra embalagem, enriquecendo o ser de maturidade e sabedoria para bem lidar com os desencantos da estrada.

Mesmo quando a existência parece assinalada apenas por miséria, degredo e opróbrio, os inatingíveis fulcros da alma se beneficiam das adversidades, qual o botão de rosa que recebe a carícia do sol da manhã, abrindo-se para espalhar beleza e perfume no jardim de Deus.

Incontestável reconhecer que atravessamos zona sombria, onde nuvens tempestuosas cobrem os céus, empanando a luz solar e insistindo na mantença dessa madrugada moral, que parece não ter fim. Filhos se voltam contra pais, nações se armam contra outras nações e o canto suave dos pássaros parece se calar, ante a metralha e o ronco dos aviões supersônicos, prenunciadores das tragédias coletivas, mas qualquer orbe que viveu sua transição planetária passou por seu tempo de experiências amargas, onde o império do mal pareceu triunfar sobre o bem, o choro sufocou o riso e a amargura desidratou a esperança.

Tudo tem seu tempo.

Assegurou-nos Jesus que no mundo somente teríamos aflições. Ei-las, em profusão avassaladora e medonha, mas ninguém pode deter o tempo nem impedir que o amanhecer ressurja, após o negrejar da madrugada de pungentes expiações.

Se o teu tempo presente te oferta alguma calmaria em meio à tormenta que a muitos fustiga, sê tu apoio e equilíbrio a tantos em tombamento.

Se tens alguma visão mais clara, auxilia quem tateia nas trevas do entendimento.

Guia alguns perdidos nos abrolhos das duras experiências.

Cada tempo tem sua própria resposta. Há tempo de guerra e outro da paz.

Se não puderes asserenar o outro, tragado pelo vendaval das paixões mundanas, aquieta teus furacões íntimos e avança, um milímetro que seja.

O Cristo fará de ti suporte e porto seguro para os barcos desorientados no mar bravio das vivências em trânsito pelos oceanos das experimentações evolutivas.

Tudo tem seu tempo...


Marta  Espírito)

Salvador, 29.06.2025



Médium: Marcel Mariano







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