sábado, 24 de maio de 2025

Do átomo ao Arcanjo


 imagem ilustrativa


Nunca houve um só instante na vida das criaturas humanas onde as rogativas se fizessem desamparadas de respostas pelo alto. Desde a antiguidade mais remota aos dias presentes, as necessidades do ser têm se multiplicado conforme o grau de evolução, particularmente no aspecto da sua relação com o mundo.

Da caverna ao arranha céu. Da vida tribal ao aconchego das grandes metrópoles. Da floresta luxuriante à selva de pedra. Das comunidades ribeirinhas à moradia nos condomínios de luxo.

Do arco e da flecha ao fuzil e ao tanque de guerra.

As múltiplas alterações impuseram extraordinária metamorfose nas vidas individuais e coletivas, e na mesma esteira, o homem alterou profundamente sua relação com o sagrado, o místico.

Evoluiu dos sacrifícios humanos para a adoração abstrata, erguendo suntuosas basílicas, onde antropomorfizou a divindade, dando-lhe uma feição humana. Na impossibilidade de divinizar-se, escolheu humanizar os deuses, que passaram a exibir características próprias das imperfeições terrestres. E mesmo quando seus rogos eram frutos da insensatez ou da cobiça insana, as forças superiores não deixavam os seres pensantes ao léu.

Cada um foi atendido conforme suas necessidades evolutivas. Cada qual recebeu de acordo com a lei do mérito.

Não seja de estranhar que petitórios tenham esperado séculos para satisfação e rogativas no limite do desespero aguardem milênios por uma solução que, invariavelmente, brotará das próprias criaturas humanas em processo lento de evolução.

A oração, ainda manejada pelo Espírito como simples ato de pedir, possui mecanismos sutis no campo delicado da alma que estão muito longe de percepção pelos próprios orantes. Mães abnegadas intercedem por filhos perdulários, pais dedicados à mantença do lar suplicam por víveres em favor da prole faminta e sadios pedem pelos doentes. Muitas vezes o alto parecerá insensível aos clamores dos afogados na carne enfermiça, mas eis que nas leiras do trabalho, o quadro vai se renovando sem que os próprios interessados se dêem conta.

Surge a escola e liberta muitas vidas da ignorância. Aparece o livro e alforria o ser do desconhecimento. A lágrima renova a visão embaçada, a dor desperta muitos para o abandono de vícios e adoção de bons hábitos, a limitação recupera o bom senso e a solidão resgata o sentimento em tresvario das paixões.

Para muitos, Deus parece estar deslembrado de que Seus filhos marcham pelos caminhos terrestres, fustigados pela incompreensão dos semelhantes e pelo combate dos violentos, padecendo os mais atrozes sofrimentos, mas pelo cadinho das lutas evolutivas, pelas dificuldades enfrentadas com estoicismo e pela grandeza da fé lúcida, purificada pela confiança na continuidade da vida, além da campa fria do túmulo, o ser, cedo ou tarde, se perceberá sempre cercado de bênçãos divinas, a lhe chegarem pelas portas do coração em forma de entendimento e luz, otimismo e coragem, avançando mesmo que penosamente, pelas trilhas do próprio destino.

Se teu passado te constrange e teu presente te inquieta, prossegue no serviço modesto do bem, espalhando em derredor de teus passos sementes de alegria e contentamento, confiança e otimismo, na certeza inconspurcável de que és, para o alto, ferramenta nas mãos de Jesus, operando no mundo, devagarinho, a mudança das engrenagens dolorosas, até que se faça, entre a maioria, a constatação de que ninguém viaja ao desamparo do átomo ao arcanjo, atravessando as rudes pelejas do aperfeiçoamento incessante.

Deus ontem.

Deus hoje.

Deus sempre.

Marta (Espírito)

Paulo Afonso, 24.05.2025


Médium: Marcel Mariano






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