A cada descoberta da arqueologia ou dos paleontólogos, o homem pesquisador se deixa fascinar pela longa trajetória da caminhada no dorso da terra que lhe serve de morada.
Fósseis e artefatos antigos, ferramentas primitivas e pinturas rupestres surgem aqui e ali, dando sinais da presença humana em cavernas ou palafitas, onde o grupo cunhava suas marcas para o porvir distante. Seja na Serra da Capivara, no sertão árido do Piauí, ou em grutas da Espanha ou da África do Sul, impossível ignorar a presença humana em incontáveis milênios de história e civilização.
Reunindo fragmento a fragmento, pesquisadores vão entendendo parte dessa saga, a se perder nas vastidões do tempo. E quando a egiptologia arranca das areias escaldantes do vale dos reis novas tumbas e sarcófagos, uma nesga daqueles dias longínquos volta a nos impressionar pela riqueza da arte e da arquitetura, conquanto tudo fosse amador e precário, segundo os critérios dos novos tempos.
Templos suntuosos, onde a procissão de divindades magnetizava a massa de fiéis, a se prostrar em adoração a deuses sanguinários. O carro dourado de faraós e mandatários ilustres, com suas púrpuras e seus brasões da realeza então vigente. Colunas altivas, soberbos edifícios públicos e palacetes, onde a vida parecia feliz e venturosa, ignorando a massa de povo que em toda parte a dor e o sofrimento fazem plantão.
Agora, tudo são cinzas e pedaços quebrados da história de vidas que desfilaram um dia no carro do poder e da soberba, oportunamente reduzidos a pó pelo sopro frio da morte.
As criaturas humanas, somente a penosos esforços, foram tomando ciência da impermanência de tudo, assistindo a ascensão e a queda de césares e generais, sacerdotes e escribas, imperadores e rainhas excêntricas.
Tudo passou, arrastado pela ventania impetuosa do tempo.
Agora, a ufania dos tempos tecnológicos, os artefatos portáteis de alta complexidade eletrônica, os muitos dados em espaços minúsculos de drives e nuvens virtuais. O deslumbramento das descobertas espaciais, o sonho de se aproximar das viagens pelo universo usando a velocidade da luz ou transpor as distâncias colossais entre as galáxias pelo buraco das minhocas. Viagens no tempo. Superação de enfermidades cruéis e devastadoras. Quase tudo ao alcance das mãos, o cérebro em delírio, neurônios a mil.
E bem do lado, o corpo adorado em frieza glacial, sem que se possa deter a chegada da morte. A saudade sem remédio, o desencanto com o muito ter e o vazio interior nunca preenchido. Uma crença religiosa adotada por convenção social e a alma faminta de luz.
Páginas e livros à mancheia, abarrotando estantes e armários, mas nos sentimentos a incerteza do amanhã.
Rituais que deslumbram os olhos, mas não acalmam a inquietação das almas em sede de respostas.
O homem, de alguma forma, parece um beduíno que acaba de atravessar um Saara de buscas sôfregas, se postando num promontório de indagações filosóficas e existenciais, ignorando um vasto rio de elucidações à sua frente.
Apaixona-se, desconhecendo o verdadeiro amor. Possui coisas, perdido em si mesmo.
Domina vastas extensões de terra e gado, incapaz de domar as próprias paixões.
Aturdido e aflito, busca ajuda em súplica desesperada e o alto nunca nega-lhe auxílio e orientação, sussurrando-lhe em cantatas de amor:
Ó, filho das estrelas, herdeiro do Pai, inquilino passageiro das moradas do infinito, toma Jesus como modelo e guia. Estuda Sua divina doutrina. Põe em prática Seus ensinos e maneja o amor como ferramenta de tua ação no mundo.
Serve, perdoa, trabalha e espera.
Amor, imbatível amor! Alimento das almas e hálito de Deus, nutrindo o Espírito de imorredouras esperanças para o amanhã sem fim.
Marta (Espírito)
Cascavel/PR, 05.10.2025
Médium: Marcel Mariano


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