domingo, 26 de outubro de 2025

Sobram Damascos escasseiam Saulos

 


Imagem ilustrativa da estrada de Damasco


Possuidor de um vigor pouco visto na história, o jovem Saulo, doutor e intérprete da lei em Israel, não tergiversou na perseguição inclemente aos discípulos do Evangelho nascente. 

Portando cartas que ofertavam-lhe poderes quase que absolutos, demandou Damasco em companhia de outros três amigos, tencionando calar uma das vozes mais marcantes daqueles dias inolvidáveis, Ananias. 

E às portas da cidade histórica, viu-se diante de impressionante luminosidade, que o arrojou de sua empáfia e presunção, o fazendo rever, a partir dali, toda sua caminhada. 

Reconsiderou caminhos. 

Recapitulou a própria existência. 

Alterou completamente o modo de pensar. 

Abriu-se a nova compreensão. 

Nos caminhos da vida, cada criatura sofrerá, aqui e ali, intervenção da divindade, no sentido de corrigir a própria rota, alterar o mapa existencial e ressignificar as buscas. 

Gêngis Khan buscou a glória do domínio arbitrário e encontrou a morte, devorado por uma febre violenta. Alexandre Magno tencionou dominar o mundo e sucumbiu a uma enfermidade devoradora antes de completar 35 anos de vida. Nero ateou fogo em Roma, enquanto tocava sua lira de loucura e insanidade, descendo ao sepulcro sob o ódio de milhares de vítimas.

Césares diversos se autoproclamaram deuses, rolando para o olvido e a execração histórica em condições degradantes. 

Ainda hoje, em tempos que exaltam o cérebro e a inteligência, magnatas e empresários se fazem crer senhores do mundo, procurando fugir de si mesmos e das suas torpezas morais, parecendo olvidar o corpo precário em que se manifestam. 

Sobram Damascos. 

Escasseiam Saulos. 

Nem todos parecem observar as mudanças de paradigma que ora se operam na Terra, sob a condução segura de Jesus Cristo. Velhas e bolorentas estruturas de poder se desfazem ao sopro de conflitos armados ou debaixo de repúdio popular. Outros, são tragados por enfermidades cruéis e destruidoras no auge do poder ilusório, penetrando a madrugada da morte em completo abandono. 

Somente o espírito que se permitiu tocar pelas claridades do amor e se sensibilizou ante as demandas humanas, consegue contemplar o planeta como sublime escola de aperfeiçoamento. 

Busca ajustar-se ao desejo do alto. Faz-se ferramenta nas mãos de Deus, se deixando operar como arado em terras áridas de corações petrificados.

Em muitas Damascos, torna-se arauto de boas notícias. 

Não persegue nem calunia. Auxilia e compreende. 

Semeia a esperança e conclama à alegria. 

Despontando dia novo, acolhe o sol como guia, diluindo as próprias sombras íntimas e mesmo desprovido de recursos mais dilatados, nesse ou naquele campo, torna-se suporte para muitos, apoio de caídos e mourão de tombados. 

Domestica e educa o ego.

Espalha a confiança, exaltando a liberdade.

Não exige, não disputa, não peleja nem reclama. 

Serve e passa.

Se já não surgiu à vista, tua Damasco não está tão longe de teus passos. Nela, não se homiziam teus adversários ou se escondem teus algozes. 

Eles estão em tua intimidade, alimentados por tua presunção e armados por tua ignorância.

Alforria-os. 

O fardo tem sido muito pesado até aqui, mas com Ele suave é o jugo, leve é a bagagem da esperança.

Diante de tua Damasco, firma teu compromisso com a luz e abandona teus propósitos de possuir o mundo. Busca ser senhor de ti mesmo, em  ouvindo uma vez mais o apelo inolvidável:

~ Saulo, Saulo, porque me persegues?

Em derredor, o silêncio gritante do deserto das ilusões humanas. Dentro de ti, a eloquente resposta da mudança para o sumo bem.

Marta (Espírito)

Londrina/PR, 26.10.2025


Médium: Marcel Mariano



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