Paisagem de milhões de anos é revelada sob o gelo profundo da Antártida.
Uma equipa internacional de investigadores descobriu uma vasta paisagem ancestral, preservada sob cerca de dois quilómetros de gelo na Antártida Oriental. Este mundo subglacial, intocado pela luz solar há aproximadamente 34 milhões de anos, apresenta uma topografia única, com cristas afiadas e vales profundos, esculpidos por rios num passado remoto .
De acordo com o estudo publicado na revista Nature Communications, a paisagem tem dimensões comparáveis a países como a Bélgica ou o estado norte-americano de Maryland. A sua formação remonta ao período em que a Antártida fazia parte do supercontinente Gondwana, caracterizado por um ambiente temperado, com florestas densas e uma rede hidrográfica ativa.
O que torna esta descoberta particularmente notável é o estado de conservação excepcional do terreno. Ao contrário de outras regiões, onde o gelo em movimento erosiona a superfície subjacente, a camada de gelo nesta região é "fria na base", permanecendo firmemente congelada ao leito rochoso. Este fenómeno funcionou como uma cápsula do tempo geológica, protegendo a paisagem de forma quase perfeita.
A preservação desta paisagem oferece uma janela única para um período crucial de transição climática: o arrefecimento global que marcou a passagem do Eoceno para o Oligoceno, que transformou a Antártida de um continente verde num deserto gelado. Os cientistas sublinham que estudar como esta camada de gelo se comportou no passado é fundamental para prever a sua resposta às alterações climáticas atuais.
Esta investigação, que recorreu a tecnologias de radar de penetração no gelo, não só revela um capítulo fundamental da história da Terra, como fornece dados críticos para projetar a futura estabilidade das camadas de gelo polares e a sua contribuição para a subida do nível global do mar.
Fonte: An ancient river landscape preserved beneath the East Antarctic Ice Sheet. Nature Communications, 24 de outubro.

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