segunda-feira, 17 de novembro de 2025

LUTO, não é só uma tristeza profunda

 


Não comece achando que “luto é só uma tristeza profunda”. Isso é simplificação confortável. O luto é uma experiência que reorganiza o cérebro. Não é apenas sentir. É reaprender a existir em um mundo onde algo ou alguém essencial não está mais. E isso não acontece porque você é fraco ou dramático. Acontece porque o cérebro era moldado pela presença que se perdeu. Quando essa presença desaparece, o sistema inteiro tenta entender como seguir funcionando.


Durante o luto, regiões ligadas à memória, apego, alerta e regulação emocional passam por uma reconfiguração intensa. É comum sentir confusão, desorientação e até dificuldade de tomar decisões simples. Isso não é “falta de controle”. É o cérebro tentando reconectar pontos que antes estavam claros.


O luto também mexe na forma como o corpo se organiza. Sono pode ficar instável. Apetite muda. Energia oscila. Você pode sentir um cansaço que parece não ter origem física. E é real: o cérebro em adaptação consome enormes recursos. O que muita gente chama de “preguiça” é, na verdade, reconstrução neurológica.


Outro ponto que quase ninguém fala: o cérebro registra a perda como ameaça. Não porque o que aconteceu é um perigo contínuo, mas porque a ruptura do vínculo ativa o sistema de sobrevivência. Por isso, medo e angústia aparecem, às vezes, sem motivo aparente. O corpo tenta garantir que você não sofra outro impacto do mesmo tamanho. É como se ele dissesse: “não solta mais nada, segura tudo”.


E é justamente aqui que muitas pessoas se cobram para reagir rápido demais. Querem “voltar a ser quem eram”. Mas isso é impossível. O luto não é sobre retornar ao que havia antes. É sobre se tornar alguém que carrega a ausência, sem se dissolver nela.


Não existe tempo certo. Não existe fórmula. Não existe comparação válida entre dois lutos. Cada história de amor, convivência, presença e significado é única, então a forma como o cérebro responde também será.


O que ajuda:


Falar, mesmo quando a voz falha.


Se permitir sentir, mesmo quando é desconfortável.


Criar novos rituais que lembrem que a vida continua, sem apagar o que houve.


Não buscar “substituir” o que se foi, e sim honrar.


E se houver recaídas, ondas fortes, dias de vazio: isso não significa que você está piorando. Significa que o cérebro está reaprendendo a viver no ritmo possível.


Se você está passando por isso agora, saiba: não é fraqueza sentir tanto. É prova de que existiu amor, vínculo, história e sentido.

#braga_conecta

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